Um manifestante jogou uma lata de tinta vermelha na rampa do Palácio do Planalto, em Brasília, na manhã desta segunda-feira , 8. Segundo um apoiador do presidente Jair Bolsonaro que estava no local, por volta de 9h, um homem se aproximou da sede do governo, despejou o produto e deixou o local. Funcionários do Palácio do Planalto imediatamente passaram a limpar a rampa.
O GSI (Gabinete de Segurança Institucional), que faz a segurança do edifício, divulgou nota e disse que o Planalto foi “vítima de um ato de vandalismo”.
“Após ser detido pela equipe de segurança do Planalto, o responsável pelo ato foi entregue às autoridades policiais, para adoção das medidas legais cabíveis”, disse o GSI.
No mesmo comunicado, a pasta afirma que o palácio é tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A Polícia Militar do Distrito Federal informou que o homem detido foi encaminhado para a Polícia Federal.
O governo está pressionado devido a sua gestão da crise do novo coronavírus – com ameaça de sonegação de dados de infectados e mortos- e à realização de protestos de rua neste domingo, 7. Os manifestantes levantaram bandeiras antirracistas e contra Bolsonaro.
Na manhã desta segunda, Bolsonaro falou com apoiadores pouco depois de deixar o Palácio da Alvorada. Ele comentou as manifestações de domingo e as classificou como “o grande problema do momento”.
“Como eu peguei esse País? Vocês [apoiadores] têm razão do que pleiteiam e do que falam. Eu peguei um câncer em tudo o que é lugar. Um médico não pode, de uma hora pra outra, resolver esse problema todo. O grande problema do momento é isso que vocês estão vendo aí um pouco na rua ontem [domingo], estão começando a colocar as mangas de fora”, disse, em declarações transmitidas pelo site Foco do Brasil, que apoia Bolsonaro.
Bolsonaro também criticou a imprensa e conclamou seus simpatizantes a “esquecer” jornais como a Folha de S.Paulo e O Globo. “[Os manifestantes de] Ontem [domingo] para a grande mídia são democratas. Trinta anos de doutrinação em cima do Brasil, massificação, cada vez mais formando militantes”.
O presidente afirmou ainda que, devagar, vai “arrumando as coisas” no Brasil e citou que, no final deste ano, deve fazer sua primeira indicação para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal), com a aposentadoria de Celso de Mello.
“A gente vai vencer essa guerra aí. O Brasil não vai para a esquerda, não vai afundar. Não vai virar uma Venezuela como alguns queriam aí”, concluiu.
Atos anti-Bolsonaro, que ocorreram em diferentes pontos do país neste domingo, 7, ganharam o reforço de gritos contra o racismo, causaram aglomerações e expuseram a cisão entre movimentos e partidos de oposição ao governo.
Em São Paulo, em Brasília e no Rio, por exemplo, cartazes e faixas fizeram referência ao “vida negras importam” -o “black lives matter”, movimento que ganhou corpo nos EUA após a morte de George Floyd por um policial branco.
Houve atos contra o governo também em Belo Horizonte, Belém, Goiânia e Salvador, entre outras. Muitos deles marcados por aglomerações, em meio a uma média recente de cerca de mil mortos por dia na pandemia.
Os movimentos mantiveram o chamado para os atos mesmo após o questionamento sobre promover aglomeração em meio à pandemia -a estratégia de distanciamento social é a única forma efetiva de prevenção do contágio, segundo orientações médicas.
Os protestos, em geral, ocorreram de forma pacífica. Em São Paulo, um pequeno grupo de manifestantes foi dispersado pela tropa de choque da PM na região de Pinheiros, cerca de três horas após o término do ato contra o presidente.
Policiais lançaram bombas de efeito moral, enquanto moradores do bairro gritavam “fascista” e jogavam ovos e pedras contra os policiais.
No domingo anterior, 31, em São Paulo, um ato contra Bolsonaro convocado por torcidas organizadas acabou sendo dispersado por bombas lançadas pela PM. O conflito ocorreu na avenida Paulista, onde naquele dia também havia uma manifestação a favor de Bolsonaro.
O Palácio do Planalto e o Governo do Distrito Federal, por exemplo, trabalhavam com a possibilidade de haver violência neste final de semana.
Desde o início da semana passada, Bolsonaro orientou sua militância a não comparecer à Esplanada dos Ministérios, como costuma fazer todos os domingos. Ao mesmo tempo, procurou elevar a temperatura chamando os manifestantes contrários ao governo de terroristas, maconheiros, marginais e black blocs.
Dois dias antes do protesto, Bolsonaro cobrou que as PMs fizessem “seu devido trabalho”, caso “estes marginais” extrapolassem os “limites da lei”. O presidente chegou a insinuar o uso da Força Nacional de Segurança Pública, que poderia ser acionada para a proteção do patrimônio.
A expectativa de que as manifestações terminassem em violência também se materializou no reforço de grades diante do Palácio do Planalto e na quantidade de policiais militares espalhados pelos cerca de 3 km entre a rodoviária do Plano Piloto e a Praça dos Três Poderes. Em SP, a PM também reforçou o efetivo.
(*) Com informações da Folhapress