MANAUS/SÃO PAULO – Entidade mundial com forte atuação na Amazônia, o Greenpeace luta pela proteção do maior bioma verde do planeta há quase três décadas. Em tempos de crise sanitária e agravante dificuldade climática, a REVISTA CENARIUM conversou com a diretora de programas do Greenpeace Brasil que, de São Paulo, falou com exclusividade sobre ações na justiça contra o Ibama local, desmatamento recorde na região, Covid-19 entre os indígenas e fez duras críticas ao governo Bolsonaro e sua política ambiental.
Revista Cenarium – O Greenpeace, em conjunto com o ISA e Abrampa, entrou com uma ação judicial contra a União e o Ibama, na Justiça Federal do Estado do Amazonas. Essa Ação Civil Pública é contra o despacho que liberou a exportação de madeira nativa, sem fiscalização. Qual o risco maior dessa liberação?
Tica Minami – “Um dia antes da confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil, em plena terça-feira de Carnaval, 25, o presidente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Eduardo Bim, liberou exportações de madeira nativa sem autorização do órgão. A mudança na regra favorece a comercialização de madeira ilegal. Na prática, a medida acaba com a necessidade de que o órgão de fiscalização ambiental autorize a exportação de cargas de madeira retirada das florestas do país, deixando evidente que o atual governo age em favor do crime na floresta e deixa à vontade aqueles que o cometem.

Revista Cenarium – Isso significa quê?
Tica Minami – Significa que se as ações de fiscalização contra o crime na Amazônia diminuem, madeireiros ilegais têm estrada aberta, literalmente, para desmatar. Na realidade, este é um governo que abriu mão do seu papel de proteger a floresta para incentivar o desmatamento. Como resultado, a destruição, o crime e a violência explodiram na Amazônia. Cabe agora à sociedade cuidar do maior patrimônio ambiental dos brasileiros. É o que estamos fazendo hoje.
Revista Cenarium – Quais áreas do Amazonas estão mais suscetíveis a essa agressão?
Tica Minami – O sul do Estado – região entre Apuí e Lábrea, e Boca do Acre – e também a região do Baixo Amazonas, que historicamente sofre maior pressão da indústria madeireira. A região do rio Purus também, que é de onde se tira muita madeira.
Revista Cenarium – Além do campo jurídico, o Greenpeace planeja ações de ruas como manifestações, já que o isolamento está mais flexível? Ou mesmo campanhas mais agressivas de proteção às florestas do Amazonas?
Tica Minami – Embora várias localidades já estejam flexibilizando o isolamento, vemos a medida com preocupação, pois os dados e estatísticas sobre a pandemia no Brasil apontam que a curva da doença continua em ascensão. No contexto da pandemia, retiramos todos os times que fazem diariamente esse trabalho das ruas, prezando pela proteção deles e pelo bem-estar de todos, reduzindo a circulação de pessoas nas cidades. Orientamos, também, nossos voluntários a não realizarem atividades de rua e estamos apoiando-os de todas as maneiras possíveis nesse momento.
Revista Cenarium – Como o Greenpeace analisa esse “novo” Ibama proposto pelo governo Bolsonaro?

Tica Minami – Ao longo do ano passado, denunciamos sistematicamente a inoperância do governo Bolsonaro e a deliberada fragilização dos órgãos, equipes e políticas de proteção ao meio ambiente. Cortes no orçamento, redução da autonomia dos órgãos de controle e proteção ambiental, e inúmeras ações e declarações deram aos criminosos ambientais sinal verde para atuar, resultando no aumento significativo do desmatamento, das invasões de áreas protegidas e terras indígenas e da violência. O governo federal premia criminosos e pune os que defendem a floresta.
Revista Cenarium – E a questão “indígenas versus Covid-19”, o Greenpeace está acompanhando a luta das tribos amazônidas para evitar a contaminação nas aldeias?
Tica Minami – O desmatamento continua aumentando mesmo durante a pandemia e há o risco de criminosos levarem o novo Coronavírus para estes territórios isolados e de populações extremamente vulneráveis. Diante deste cenário, o Greenpeace vem, desde abril, atuando em uma ampla rede de solidariedade e apoio para levar ajuda emergencial a territórios em que a logística é um desafio permanente para a atenção primária à saúde. Com o projeto Asas da Emergência, estamos disponibilizando nosso avião, nossa estrutura e equipes de diversas áreas para que médicos, enfermeiros e equipamentos essenciais de saúde possam chegar a essas populações que estão ainda mais vulneráveis diante desta pandemia.
Revista Cenarium – Quem são os parceiros do Greenpeace no Amazonas?

Tica Minami – Nessa nova frente de atuação, a iniciativa do Greenpeace Brasil se articula com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e com suas organizações de base, como a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn). Além de outras instituições e autoridades de saúde envolvidas no auxílio emergencial aos territórios indígenas, com foco no estado do Amazonas e o Médio Purus, além de regiões como o Tapajós e Alto Solimões.
Revista Cenarium – Ainda temos mais uma data comemorativa, que é o Dia da Natureza, comemorado em 4 de outubro. O Greenpeace planeja ações para esse dia?
Tica Minami – Ainda não temos nada preparado, mas avisaremos sobre o dia e as ações.
Fonte: Revista Cenarium – Mencius Melo