Mencius Melo – da Revista Cenarium
MANAUS/RIO DE JANEIRO – A toada ‘Rosas Vermelhas’ do boi Garantido de Parintins, será reproduzida pela cantora amazonense Marjara Maquiné, mais conhecida pelo nome artístico Marj, durante a Parada do LGBTI+ Brasil, no Rio de Janeiro. O evento acontecerá no formato ‘live’ no próximo domingo, 28, a partir das 14h (horário de Brasília) com transmissão pelo Facebook.com/aliancaLGBTI/.
A artista amazonense está radicada no Rio de Janeiro há quatro anos e contou com exclusividade à REVISTA CENARIUM, o orgulho em poder levar a toada do boi bumbá para um evento de grande visibilidade.
“Participo de um coletivo musical e no ano passado já havíamos participado do trio, na parada LGBTI”, recordou Marj, que por conta da boa participação, foi convidada à compor a lista de artistas pela segunda vez.
“A produção do evento me contatou e pediu uma amostra, nesse momento enviei a toada ‘Rosas Vermelhas’ em formato acústico, que tem tudo a ver com a luta das minorias envolvidas na parada e para minha surpresa o produtor me ligou chorando, emocionado”, relatou Marj.
Conexão Rio/Parintins
Manauara da gema, Marjara sempre nutriu paixão pelo bumbá Garantido, a artista conta que ao chegar no Rio de Janeiro, teve uma ideia. “Desde quando pisei no Rio, eu quis trazer as minhas regionalidades e aí pensei: vou trazer o boi para cá”, segredou.
Em uma de suas vindas a Manaus, Marj procurou alguém do Garantido. “Me apresentaram a Lydia Lúcia, produtora do boi e a ela confessei a vontade de cantar e gravar toadas, entre elas ‘Vermelho’ e ‘O Amor Está no Ar’, ambas do Chico da Silva”, relembrou.
“Foi nesse momento que a produtora me disse: tenho algo aqui que acho que você irá gostar e em seguida me apresentou ‘Rosas Vermelhas’, foi paixão à primeira ouvida”, descreveu.
“Para completar ela me deu uma ombreira de penas do Werner Botelho (falecido artista manauara conhecido nos redutos das escolas de samba e boi bumbá) e pronto! Aí o pacote ficou completo!”, resumiu.
Da Amazônia para o mundo ouvir
A toada ‘Rosas Vermelhas’ fez parte da trilha sonora de apresentação do boi bumbá Garantido no festival folclórico de 2019. Foi composta por Enéas Dias, Marcos Moura e João Kennedy – trio de compositores do boi Garantido conhecidos como ‘Os Baiás’.
Segundo João Kennedy, a toada é um grito em defesa dos direitos da mulher, dos negros, índios e LGBTI’s.
“Na nossa obra, estabelecemos que após Catirina desejar a língua do boi (Catirina é a personagem que deseja a língua do animal no folclore popular), ela passou a desejar o direito e o respeito às mulheres, negros, indígenas e gays e demais minorias”, sintetizou Kennedy.
Ainda segundo ele, personagens que fazem parte de uma ‘história secundária’, estão presentes na letra da toada. “São ‘Dandaras’, ‘Marielles’ e ‘Marias’, que lutam por uma sociedade justa e em defesa da vida”, enalteceu o compositor.
“Para nós, ter ‘Rosas Vermelhas’ na trilha da parada LGBTI do Brasil e ainda ouvi-la ser executada antes da fala da esposa de Marielle Franco, é um orgulho e a certeza que fizemos a obra certa na hora certa”, finalizou João Kennedy.
Nos bares da vida…
Marjara Maquiné ou simplesmente Marj, nasceu em Manaus e iniciou carreira aos 21 anos cantando nos bares da vida. Estudou e formou-se em Engenharia Química pela Universidade Estadual do Amazonas (UEA).
Aos 25 decidiu ir para o Rio de Janeiro fazer mestrado, mas, lá decidiu que a carreira musical era inevitável. Membro do coletivo Síncope, ela se apresenta nas noites cariocas com um repertório que une de tudo, inclusive toadas dos bois de Parintins.
A cantora manauara se apresentará na Parada LGBTI Brasil e na segunda-feira irá lançar seu mais novo trabalho intitulado ‘Só’, um single que estará em todas as plataformas digitais de vendas por streaming.
Fonte: Revista Cenarium