Mencius Melo – da Revista Cenarium
MANAUS/BELÉM – Com a recente abertura do comércio e a retomada em ritmo lento da indústria na região norte, os setores produtivos que formam a cadeia econômica passam a ver com clareza, quais empreendimentos conseguiram sobreviver, ou até mesmo se superar em meio à crise provocada pela pandemia do novo Coronavírus.
Para o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus (CDLM), Ralph Assayag, o comércio está em escombros e os efeitos econômicos da pandemia passarão a ser sentidos a partir deste mês.
“Desconheço quem se superou em meio a essa crise, mas posso apontar os que menos se deram mal, que foram os supermercados e as drogarias”, analisou. Pelos nossos cálculos, cerca de 1.500 lojas em Manaus não irão voltar do isolamento e mesmo as que funcionaram como os postos de gasolina, por exemplo, tiveram 70% de perda”, informou.
Ainda segundo Ralph, a luta agora é para tentar salvar o que sobrou. “Nossa preocupação enquanto entidade de classe, é lutar para que os que estão reabrindo tenham como sobreviver com 50% de vendas. Como um restaurante de 80 metros quadrados irá funcionar com 8 mesas? Que lucro ele vai ter com esse volume de vendas?”, questionou.
Delivery funcionou
A empresária Fabíola Kimura do empreendimento Tacacaria Parintins, localizada em Manaus, foi na contramão da perspectiva de Ralph Assayag. A Empreendedora do ramo gastronômico, Fabiola trabalha com uma iguaria irresistível na região amazônica: O tacacá*
Com duas unidades, Fabiola usou as redes sociais para dinamizar as vendas. “A pandemia foi implacável com as lojas e por isso, tivemos que partir para o delivery e confesso: deu muito certo”, comemorou ela. “Usei as redes para vender meus produtos e deu tão certo que hoje tenho um grupo de entregadores de aplicativos que já ficam na porta da tacacaria porque sabem que a demanda não acaba e não fica pouca”, comentou bem humorada.
Com uma unidade no Centro Social Urbano do Parque 10 de novembro e outra no bairro D.Pedro I, a empresária revela que não usa aplicativos como Ifood ou Uber Eats. “O volume já é grande sem utilizarmos essas ferramentas, imagina se ativarmos as vendas por esses meios, aí terei que abrir uma terceira unidade só para o delivery”, observou.
Turismo no Pará em ritmo lento
Localizado no histórico bairro da Campina, em Belém do Pará, o Hostel Belém teve redução de 95% em sua clientela. Acostumado a receber mochileiros do mundo todo para conhecer as belezas da capital do Pará e da Amazônia paraense, o empreendimento aguarda os próximos meses para tentar reverter o quadro negativo.
Fernando Mendes, proprietário do hotel diz que para segurar a pressão, teve que cortar custos. “Não fechamos, mas, fui obrigado a reduzir despesas, dispensar funcionários e a cortar tudo o que eu podia cortar. Passamos a receber somente pessoas que vinham a tratamento de saúde ou a trabalho, em Belém”, descreveu.
Fernando espera desatar “os nós” que a pandemia gerou na cadeia produtiva do turismo paraense, mesmo com as perspectivas de recomposição dos elos estruturais, Fernando Mendes acredita que o tempo de recuperação será longo para o setor.
“Em julho acredito que teremos uma pequena melhora, porém, isso dependerá da abertura do aeroporto e da rodoviária”. Contudo vamos voltar, mas acredito que até o final do ano teremos no máximo 50% de recuperação do setor”, sentenciou.
Inaugurou na pandemia
O empreendedor de Manaus, Abraão Ferreira inaugurou o “Pastel do Chefe” na semana em que a pandemia atingiu Manaus. Em meio a dura realidade que tomou seus investimentos, ele não se abateu. “De portas fechadas, parti para o delivery e foi a melhor decisão que eu tomei”, destacou.
Com o estouro nas vendas, Abraão passou a reavaliar seu negócio. “Vendo 100 pastéis das 15h às 21h só no delivery, o que me leva a crer que apesar de nociva, a pandemia veio para mostrar que o cliente quer a comodidade de ser servido em casa e que hoje, a porta aberta da loja, é mais por simbolismo”, analisou.
Para o pós-pandemia, ele planeja ampliar. “Não posso dizer que vou expandir, mas, pretendo ampliar a loja para vender mais e com isso compro equipamentos em uma loja especializada e passo a empregar mais gente, é assim que vamos sair dessa”, finalizou.
Economista analisa
Vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), a professora Denise Kassama, faz uma análise diante do quadro que apontou uma queda de 1,5% do PIB da região norte e a queda de 21,8% das vendas do comércio em estados como o Amazonas, na região norte.
Para ela, o momento agora é de avaliar com frieza. “Com essa aparente volta à normalidade, vamos entender que existe uma distância entre ‘o querer’ e ‘o acontecer’, neste atual momento”, ponderou Denise.
“O desemprego está altíssimo e se agravou com a pandemia, por isso a população está priorizando bens de primeira necessidade e não produtos como celulares e televisores, que são a base do Polo Industrial de Manaus”, observou.
Ainda segundo a economista, existem diferenças entre as economias do Amazonas e do Pará, por exemplo. “O Pará sofreu tanto quanto o Amazonas, porém, possui uma diversidade de matrizes econômicas e uma forte presença do setor primário, o que me permite avaliar que lá a economia pode se recuperar com maior velocidade”, comparou.
Quanto às impressões que o período deixará sobre a economia, Denise Kassama sentenciou. “A pandemia vai deixar a lição do empreendedorismo e me arrisco a dizer que o cara mais feliz do planeta, é o dono da Ifood”, finalizou.
Fonte: Revista Cenarium