Em Manaus, elite paga até R$ 170 mil para “fugir” da cidade em UTIs aéreas

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MANAUS – Diante dos hospitais lotados e da escassez de oxigêniohospitalar, os super ricos de Manaus estão pagando até R$ 170 mil em UTIs aéreas privadas para encontrar tratamento em cidades como Brasília, São Paulo, Goiânia e Cuiabá. Entre os que procuram oserviço estão funcionários públicos de alto escalão, profissionais liberais, empresários e até políticos. Uma dasprincipais empresas do ramo está com todos os seus voos lotados até terça-feira.

O Amazonas vive, segundo o governo do estado, a pior crise sanitáriade todos os tempos por conta do aumento no número de casos do novo coronavírus e a falta de oxigênio hospitalar para atender aospacientes. Há dois dias consecutivos, o número de enterros é superior a 200, número superior ao registrado no primeiro pico da doença, entre abril emaio do ano passado. Hospitais públicos e privados estão com suas lotações praticamente esgotadas. Enquanto a maior parte da população se aglomera para conseguir um leito e torce pela normalização do estoque de oxigênio hospitalar, quem pode deixa acidade em UTIs aéreas privadas.

O empresário Marcos Pacheco é dono de uma das duas empresas locais que atuam no serviçode UTI aérea. Ele tem cinco aviões aptos a fazerem o transporte depacientes para outros estados. Ele diz que a procura nas últimas semanas é muito superior à registrada no primeiro pico da doença, entre abril e maio do ano passado.

— Não tem nem como comparar. A procura aumentou exponencialmente. A gente não está parando um minuto. Estou com fila de espera de dois dias — afirmou.

Pacheco afirma que os destinos preferidos dos seus clientes são os hospitais de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Belém e Fortaleza. Ele chegaa cobrar até R$ 170 mil para transportar um paciente entre Manaus e São Paulo.

Ele diz que, preferencialmente, o pagamento pelo serviço é feito à vista, mas como o público é restrito, ele costuma abrir “crédito” para alguns clientes.

— Não é um mercado muito grande. A gente acaba conhecendo muita gente. Em alguns casos, a gente abre crédito e eles pagam depois. Mas o ideal, é pagamento à vista, mesmo — afirma.

O empresário Claiton Sérgio de Souza, dono da CTA Táxi Aéreo, também diz que a demanda nas últimas duas semanas pelo serviço de UTI aérea disparou. Ele colocou três aeronaves turbo hélices para fazer otransporte de pacientes. Os aviões fazem seis voos diários. Ele cobra, em média, R$ 95 mil pelo trecho entre Manaus e Brasília e R$ 85 mil pelo que vai até Cuiabá.

— As pessoas estão preocupadas. Meus voos estão lotados. Não tenho vaga até terça-feira. Eu acabei de sair da Covid-19. Minha mulher e minha filha estão doentes — disse o empresário.

Entre os clientes de Claiton neste domingo estava a família do deputado estadual AdjutoAfonso (PDT-AM). Pela manhã, ele aguardava no hall de entrada do hangar da CTA para acompanhar o embarque do seu irmão, infectado pela Covid-19, em uma UTI aérea com destino a Brasília.

— Ele estava em casa. Está indo mais por precaução, mesmo — afirmou o parlamentar.

Governo federal não usa UTIs aéreas em Manaus

Enquanto os superricos conseguem fugir da cidade, a maior parte da população afetada pela Covid-19 ainda sofre com leitos lotados e o temor da falta deoxigênio hospitalar.

Na semana passada, o governo federal anunciou uma operação para transferir 235 pacientesdo Amazonas para outros estados, mas como o Ministério da Saúde não tem UTI aérea, somente pacientes que estejam fora de UTIs poderão ser transferidos.

(Reportagem: Leandro Prazeres / O Globo)

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