Nem 8, nem 80: O que podemos e o que não devemos fazer pós-vacinação contra a covid-19

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Foto: REUTERS/Rahel Patrasso

Na próxima quinta-feira (26), o Brasil completa 18 meses do primeiro caso identificado de covid-19 no país. Desde o início, a principal recomendação para evitar o espalhamento do vírus foi: fique em casa. Mas, após tanto tempo, é factível continuar repetindo esse mantra como única medida de prevenção contra a covid-19?

O pesquisar da Universidade de Vermont Vitor Mori, membro do Observatório Covid BR, existe um tripé da prevenção:

  • Ventilação ou ambiente aberto
  • Uso de máscaras de boa qualidade bem ajustada
  • Distanciamento físico

Esses três aspectos devem ser lembrados sempre e, quando não for possível cumprir com um deles, é importante reforçar os outros dois. Com isso em mente, o pesquisador afirma que é preciso falar de prevenção contra a covid-19 de forma diferente, não apelando somente ao isolamento social.

“A forma como a gente deveria falar de prevenção deveria ser diferente desde o começo. É lógico que tem pessoas que querem, conseguem e podem, que estão fazendo isolamento, abrindo mão de muitas coisas. Mas, é muito difícil dar uma orientação que sirva para todo mundo, ainda mais depois de 18 meses de uma pandemia, na qual tudo foi feito de uma forma um pouco arrastada, sem muito norte”, alerta.

Mori afirma que, atualmente, o isolamento não é uma realidade para a maioria dos brasileiros, por isso, é preciso falar de prevenção de outras formas. “É importante fazer o isolamento, o máximo que você conseguir ficar em casa, melhor. Mas sinto que insistir só nisso, sem abordar outras coisas, a gente acaba perdendo a vida real das pessoas.”

É importante lembrar que nenhum vacina, seja contra a covid-19 ou contra outras doenças, tem capacidade eficácia de proteger 100%. Sendo assim, mesmo com o esquema vacinal completo, qualquer um está sujeito à infecção pelo coronavírus. 

Serão abordados os tópicos:

  1. Que máscara usar ao sair de casa?
  2. Posso encontrar familiares e amigos?
  3. Ir a bares e restaurantes é arriscado?
  4. Fazer esporte ao ar livre, pode?
  5. Como fica o transporte público?

Qual máscara usar ao sair de casa?

O primeiro cuidado, segundo Vitor Mori, não é necessariamente qual máscara usar, mas como: a máscara deve estar sempre bem ajustada ao rosto. “Não adianta estar usando uma máscara de pano ou uma PFF2 se ela está folgada no seu rosto, com o ar saindo pelas frestas, pelo vão entre a máscara e seu rosto. Você perde a eficiência da máscara, porque a ideia dela é funcionar como um filtro do que vai entrar e sair.”

Independentemente da situação, fora de casa, usar a máscara é muito importante, de acordo com o pesquisador. Isso vale mesmo para quem está vacinado: “Por mais que você esteja vacinado, às vezes a pessoa perto de você não está e pode se sentir desconfortável. É uma questão de civilidade e respeito à ordem pública. Não vejo sentido em abrir mão da máscara, ainda mais agora que o país está conseguir desacelerar a transmissão”.

Na hora de escolher a máscara, o recomendado é fazer uma avaliação de risco, mesmo que isso seja um desafio no dia a dia. Se for a local fechado, é melhor usar uma PFF2 bem ajustada, principalmente se no lugar em questão houver outras pessoas – situações muito mais perigosas do que em espaços ao ar livre.

Caso o local fechado seja inevitável, o recomendado é que haja uma boa circulação de ar. “Se você for pra um local fechado que tiver mais gente, procure usar uma máscara de melhor qualidad. Também procure manter o distanciamento, e procure evitar espaços que sejam fechados e mal ventilados. Então aquele espaço com tudo fechado, sem janela, só o ar-condicionado recirculando o ar, melhor não, né?”

Qual máscara usar ao sair de casa?

O primeiro cuidado, segundo Vitor Mori, não é necessariamente qual máscara usar, mas como: a máscara deve estar sempre bem ajustada ao rosto. “Não adianta estar usando uma máscara de pano ou uma PFF2 se ela está folgada no seu rosto, com o ar saindo pelas frestas, pelo vão entre a máscara e seu rosto. Você perde a eficiência da máscara, porque a ideia dela é funcionar como um filtro do que vai entrar e sair.”

Independentemente da situação, fora de casa, usar a máscara é muito importante, de acordo com o pesquisador. Isso vale mesmo para quem está vacinado: “Por mais que você esteja vacinado, às vezes a pessoa perto de você não está e pode se sentir desconfortável. É uma questão de civilidade e respeito à ordem pública. Não vejo sentido em abrir mão da máscara, ainda mais agora que o país está conseguir desacelerar a transmissão”.

Na hora de escolher a máscara, o recomendado é fazer uma avaliação de risco, mesmo que isso seja um desafio no dia a dia. Se for a local fechado, é melhor usar uma PFF2 bem ajustada, principalmente se no lugar em questão houver outras pessoas – situações muito mais perigosas do que em espaços ao ar livre.

Caso o local fechado seja inevitável, o recomendado é que haja uma boa circulação de ar. “Se você for pra um local fechado que tiver mais gente, procure usar uma máscara de melhor qualidad. Também procure manter o distanciamento, e procure evitar espaços que sejam fechados e mal ventilados. Então aquele espaço com tudo fechado, sem janela, só o ar-condicionado recirculando o ar, melhor não, né?” 

Em espaços ao ar livre, devo usar máscara?

“Tem uma estimativa feita por especialistas na área baseada em rastreamento de contatos, que mostra que menos de 1% da transmissão acontece ao ar livre. Então de fato o risco é muito maior em espaço fechado”, afirma Mori.

Isso, no entanto, não quer dizer que seja possível dispensar a máscara ao ar livre. Locais abertos são muito mais seguros, mas sempre há risco de acordo com o contexto.

“Em um local aberto, bem ventilado, ao ar livre, acho que uma máscara de pano ou cirúrgica, que for mais confortável para você, bem ajustada ao rosto, já faz bem a função dela. A transmissão ao ar livre, ela até acontece, mas ela envolve principalmente interações que chamamos de face a face. Se uma pessoa está conversando com a outra, exalando aerossóis direto no rosto da outra por um período prolongado… Então o contato próximo faz a face sem máscara é bem complicado, mesmo ao ar livre. Uma máscara bem ajustada já ajuda bem”, explica.

Posso encontrar amigos e familiares?

Vitor Mori lembra que, para além da ciência, é preciso ter em mente que seres humanos são sociais por natureza. A interação pessoal, o olho no olho, tudo isso é importante. Será que não dá para encontrar alguém de vez em quando? Sim, dá.

A orientação do especialista é fazer isso sempre ao ar livre: na rua, na praça, no quintal de alguém – evite ao máximo locais fechados. E sempre de máscara.

Outro alerta: ir na casa da pessoa não é uma boa ideia. “Temos uma impressão equivocada, que é ‘vou visitar a pessoa na casa dela, sei que ela se cuida, não tem muito risco’, mas é bem ao contrário. Esses ambientes geralmente são muito mal ventilados. É um perigo enorme encontrar pessoas dentro de casa.”

“Esse viés de conhecer alguém acaba interferindo nas decisões do dia a dia. Se você for encontrar alguém, por mais próximo que seja, procure fazer isso ao ar livre. Mantenha o distanciamento e use máscara – reforçando que a máscara tem de estar bem ajustada, independentemente da máscara que você estiver usando”, alerta Mori.

Ir a bares e restaurantes é arriscado?

Ir a um bar e ir a um restaurante não é a mesma coisa, segundo o pesquisador.

“Um restaurante ao ar livre tem o risco de as pessoas que estão dividindo a mesma mesa de infectarem, mas é muito improvável que tenha o que a gente chama de ‘evento de superespalhamento’, que é quando muita gente que está perto de infecta”, explica.

No caso de um restaurante fechado, se houve uma pessoa infectada, há grandes chances de 80% das pessoas no local contraírem o coronavírus também.

O pesquisador acredita que faltam política públicas para tornar esse tipo de atividade mais segura. Uma possibilidade, segundo Mori, de apoiar o comércio de forma segura seria fechar vias públicas para carros e permitir que, no fim de semana, por exemplo, os restaurantes montem as estruturas de mesas nas ruas.

Por que o bar é diferente?

No bar, as pessoas vão essencialmente para ter interações sociais: beber, conversar, ficar perto, beijar. É difícil que alguém em um bar esteja de máscara e a interação face a face é muito frequente. Além disso, segundo Mori, quanto mais alto alguém fala, mais partículas ela emite e maior o risco de transmitir a doença.

Mesmo um bar aberto pode ser um grande risco. Entre os ambientes ao ar livre, um bar é o mais perigoso – além de shows, partidas de futebol com público e festas. “Sempre vai envolver interações próximas, face a face e sem máscara, que é justamente a situação que envolve algum risco em locais abertos. Evidentemente que o bar ao ar livre é melhor do que o bar em espaço fechado.”

“O restaurante acho um pouco mais possível, um pouco mais seguro, porque você tem interações no máximo entre a sua mesa, é mais possível manter o distanciamento e dá para reforçar mais o uso de máscara quando a pessoa não está comendo. Não é 100%, mas é muito mais possível do que no bar”, opina.

Fazer esporte ao ar livre, pode?

A opção mais segura possível é fazer esportes individuais ao ar livre, com máscara. O pesquisador avalia que é importante até mesmo para a saúde mental das pessoas, vivendo em uma pandemia há 18 meses.

“Traz muitos benefícios com riscos ínfimos. Sou super favorável que as pessoas andem de bicicleta, corram, que o parque abra. É das atividades mais seguras que podemos fazer, com o melhor retorno para a saúde mental”, pondera Vitor Mori. “Acho que as pessoas perdem um pouco a noção do quão importante isso é para que as pessoas continuem dispostas a manter as medidas de prevenção. Se você aperta muito a pessoa, a chance de ela explodir é muito grande.”

Se você está em um lugar vazio, sem mais ninguém, tudo bem abrir mão da máscara, mas isso é quase impossível nas grandes cidades. “Independentemente de onde você estiver, vão ter pessoas por perto. Justamente por isso, acho razoável manter o uso da máscara, até por respeito aos outros, por civilidade, para mostrar que você está se exercitando e se importa com as pessoas que estão a sua volta. Até porque, no esporte a gente emite muitas partículas, pela respiração tensa.”

Esporte coletivo está permitido?

Praticar esportes coletivos ao ar livre é menos seguro que praticar esportes individuais. Ainda assim, é melhor que praticar esportes em locais fechados, como em uma academia, por exemplo.

“Se você coloca uma linha de 0 a 100 do que é menos arriscado até o que é mais arriscado, eu diria que está no intermediário entre a atividade individual ao ar livre e alguma atividade em espaço fechado”, explica Vitor Mori. E lembrando: sempre de máscara.

O pesquisador conta se preocupa mais com o que vem depois, como o churrasco com os amigos depois do jogo do futebol, quando as pessoas comem, bebem e não usam máscara.

“É que nem no futebol profissional: o campo, o jogo, não me preocupam tanto. Times inteiros se infectaram ano passado porque a gente tem momentos como vestiário, todo mundo fechado, compartilhando o mesmo ar, o ônibus, a concentração. Então, tem muitos momentos para espalhar. No jogo, esse risco é muito mais baixo. Então eu acho razoável usar a máscara dentro do possível, dentro do que você conseguir usar nesse contexto, né? Se a ideia for atividade física, eu acho melhor fazer uma atividade individual, mas se a questão foram jogar futebol, eu tomaria muito cuidado depois. Pessoal que vai compartilhar carona para ir para o jogo, que vai tomar aquela cerveja depois. Então esses pontos acho que são mais críticos que o jogo em si.”

O ponto mais crítico: o transporte público

Para Vitor Mori, o transporte público é um ponto muito delicado. Foi sob esse argumento que muitas pessoas se colocaram contra as medidas de prevenção: “Se está pegando transporte público lotado, por que se cuidar na hora do lazer?”

Para o especialista, não é um debate honesto, mas, de forma geral, essa discussão foi feita de forma pouco profunda.

Quem puder, o ideal é evitar o transporte público, mas essa é uma mensagem fora da realidade para a maior parte dos brasileiros. Quem depende desse tipo de deslocamento, a única recomendação possível é: use máscara PFF2 bem ajustada ao rosto. Não tem essas máscaras? É preciso pensar em alternativas, como usar uma máscara cirúrgica e uma de tecido por cima, sempre bem vedadas.

No contexto do ônibus, do trem e do metrô lotado, é impossível ter dois pilares do tripé da prevenção, citado ao início da reportagem. “Acho que no transporte público a única solução que eu consigo enxergar é o uso da máscara. Eventualmente alguns ônibus, em algumas cidades, alguns contextos, dá para abrir a janela, mas a gente sabe que não é todo lugar.”, diz o pesquisador.

A crítica de Mori sobre esse assunto é a falta de debate e de possíveis soluções. A lotação do transporte público sempre foi um tema nas grandes cidades. “Eu esperava que essa discussão caminhasse alguns passos para repensar a forma como a cidade se organiza, mas acabou que se ignorou tudo”, opina. “Ficou um ‘entra no ônibus e se vira’. Então, acho que no final, pensando agora em termos muito pragmáticos, sobrou só recomendar para as pessoas usarem boas máscaras.”

Com informações Yahoo Notícias

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