O que representa o diagnóstico de HIV hoje, diante de avanços no tratamento

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Foto: reprodução da internet

Redação – Em mais de 40 anos, a epidemia global de HIV viu avanços significativos na disponibilização de testes de diagnóstico, nas estratégias de tratamento e controle da infecção e no reconhecimento da importância das políticas públicas na área.

Cerca de 38,4 milhões de pessoas vivem com HIV no mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em 2021, foram identificados 1,5 milhão de novos casos e 650 mil mortes por causas relacionadas ao HIV em todo o mundo. Houve redução de 68% de mortes associadas à infecção desde o pico em 2004; e de 52% desde 2010. Desde o início da epidemia, 40,1 milhões de indivíduos morreram por causas relacionadas à infecção.

A OMS destaca que o HIV continua a ser um importante problema de saúde pública global e o acesso ao diagnóstico e tratamento oportunos é uma peça-chave no enfrentamento da epidemia.

A estratégia global do setor de saúde da OMS sobre HIV para 2022–2030 visa reduzir as infecções de 1,5 milhão em 2020 para 335 mil até 2030 e as mortes de 680 mil em 2020 para menos de 240 mil em 2030.

O Dia Mundial de Luta contra a Aids, celebrado nesta quinta-feira (1º), destaca o apoio às pessoas envolvidas na luta contra o HIV e promove a conscientização sobre o entendimento do vírus como um problema de saúde pública global.

Avanços

Com a evolução dos medicamentos utilizados no combate ao HIV, a infecção pelo vírus é considerada por médicos infectologistas uma doença crônica tratável.

Em 2021, 28,7 milhões de pessoas vivendo com HIV estavam recebendo terapia antirretroviral (ART) em todo o mundo, segundo a OMS.

O Brasil distribui gratuitamente os medicamentos a todas as pessoas vivendo com HIV, desde 1996, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, existem 22 medicamentos, em 38 apresentações farmacêuticas, segundo o Ministério da Saúde.

Diferentemente dos medicamentos utilizados no final da década de 1980 e nos anos 1990, os tratamentos antirretrovirais disponíveis atualmente apresentam poucos efeitos colaterais e alta eficácia para frear a replicação viral.

A carga viral indetectável no sangue, além de estimular a recuperação da imunidade, auxilia na redução da transmissão do HIV.

O controle da infecção amplia a qualidade de vida e evita o desenvolvimento da Aids, a síndrome da imunodeficiência adquirida, explica o médico infectologista Álvaro Furtado, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

As pessoas que descobrem o diagnóstico hoje têm acesso via SUS a uma terapia moderna, com poucos efeitos adversos, com quantidade reduzida de comprimidos Álvaro Furtado, médico infectologista

“Com a ciência, os profissionais conheceram muito mais sobre a doença, quebrando vários mitos relacionados ao começo do conhecimento científico que a gente tinha sobre HIV”, afirma Furtado.

Apesar dos avanços científicos nos últimos 40 anos, a falta de informação ainda contribui para o preconceito e o estigma em torno do HIV e das pessoas que vivem com o vírus.

“Hoje, as pessoas têm a mesma expectativa de vida, compatível de uma vida saudável, com remédios mais modernos e com qualidade de vida. Realmente, a situação é muito melhor do que era há 20 ou 30 anos. O que não muda ainda é o estigma, o preconceito e conceitos errados que insistem em continuar sobre a doença e sobre a transmissão”, destaca o especialista.

O que fazer diante do diagnóstico de HIV

Conhecer a sorologia positiva para o HIV de maneira precoce aumenta a expectativa de vida de uma pessoa que vive com o vírus. O Ministério da Saúde orienta a realização da testagem em casos de situação de risco, como ter feito sexo desprotegido ou compartilhado seringas.

O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito a partir da coleta de sangue ou por fluido oral. No Brasil, os exames laboratoriais e testes rápidos, que detectam os anticorpos contra o HIV em cerca de 30 minutos, são realizados pelo SUS, em unidades de saúde da rede pública e nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA). Saiba onde fazer o teste.

“Uma pessoa que faz o diagnóstico em 2022 precisa saber que é uma doença crônica tratável. Ela terá que fazer o seguimento, a priori, para o resto da vida, tomar os remédios, fazer os exames periódicos a cada seis meses. Em um primeiro momento, em intervalo de tempo mais curto, mas depois a cada seis meses”, explica o médico.

Os exames podem ser feitos de forma anônima, segundo o ministério. Nesses centros, além da coleta e da execução dos testes, é oferecido um processo de aconselhamento, para facilitar a correta interpretação do resultado.

O médico infectologista Rico Vasconcelos, pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), afirma que ainda hoje o diagnóstico de HIV pode trazer impactos para a saúde mental.

“Antes de qualquer coisa, a pessoa precisa ter calma. É muito comum, logo que a pessoa recebe o diagnóstico da infecção por HIV, ela ir parar lá na década de 1980 usando todas as referências daquela década”, afirma.

“Primeira coisa, precisamos lembrá-la de que ela não está na década de 1980. Ela está em 2022, quando já tem um tratamento que é bom e que é disponibilizado gratuitamente aqui no Brasil. E que, em relação à saúde, ela precisa apenas se preocupar em aderir a todo esse pacote de tratamento que o médico oferece a ela”, completa.

De acordo com o pesquisador, a expectativa de vida de uma pessoa vivendo com HIV é considerada a mesma de um indivíduo que não vive com o vírus, desde que seja adotado um estilo de vida saudável, como se vacinar e ter uma alimentação equilibrada.

Sim, ela vai ter que enfrentar alguns desafios na vida do ponto de vista de tomar remédio, ter disciplina de horário, passar no médico, ter um cuidado com a saúde, mas de forma alguma o HIV diminui o sonhos, as expectativas, os desejos que as pessoas tenham no decorrer da vida Rico Vasconcelos, médico infectologista

Reforço na prevenção

Atualmente, o Ministério da Saúde recomenda a chamada prevenção combinada como a principal estratégia para evitar a infecção pelo HIV.

O método consiste no uso simultâneo de diferentes abordagens de prevenção, aplicadas em diversos contextos para responder às necessidades específicas de cada indivíduo. A integração de diferentes abordagens considera pontos de vista biomédicos, comportamentais e socioestruturais e amplia as formas de intervenção disponíveis.

As recomendações incluem o uso dos preservativos masculino e feminino, profilaxias contra o HIV, a prevenção da transmissão vertical (da mãe para o bebê durante a gestação), a testagem regular, diagnóstico e tratamento precoce das infecções, além da imunização para HPV e hepatite B, e adesão aos programas de redução de danos para usuários de álcool e drogas.

“Vivemos um movimento crescente ao longo das últimas décadas de cada vez mais liberdade sexual, que precisa ser acompanhado de uma mudança das formas de comunicação e prevenção do HIV. Até acho que a chegada da PrEP [Profilaxia Pré-Exposição] como aliada da camisinha é uma boa resposta que o mundo está encontrando pra isso”, afirma Vasconcelos.

O pesquisador da USP defende que, a disponibilização da PrEP no SUS deve ser acompanhada da divulgação a partir de campanhas capazes de atingir grandes públicos.

“A PrEP precisa ser implementada, ser colocada na ordem do dia, precisamos falar de PrEP, divulgar a PrEP e continuar divulgando e falando da camisinha e da testagem”, pontua.

Com informações da CNN Brasil

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