Redação – O regime militar que comanda Burkina Fasso afirmou nesta segunda-feira, 16, que cerca de 50 mulheres foram sequestradas por grupos islâmicos radicais nos dias 12 e 13 deste mês, na província de Soum.
O sequestro em massa é o primeiro registrado no País africano, localizado na região do Sahel, desde que a violência de grupos jihadistas se espalhou pelo território a partir de 2015.
Homens armados capturaram as mulheres quando elas colhiam frutas silvestres nos arredores da aldeia de Liki. Chefes de família, elas buscavam alimento para os parentes, segundo relatos de moradores à agência de notícias Reuters — o País enfrenta uma grave crise de segurança alimentar.
Um morador da cidade vizinha de Aribinda disse que mulheres chegam a caminhar até 4 quilômetros para buscar alimento. Milhares de pessoas morreram e mais de 2,7 milhões foram deslocadas em todo o Sahel, devido à violência e ao aumento dos níveis da fome, segundo a ONU.
Burkina Fasso é um dos países da África Ocidental atingidos pela atuação de grupos terroristas, como o Estado Islâmico (EI) e a Al Qaeda. Insurgentes bloquearam partes do norte do País, nos últimos meses, agravando a escassez de alimentos e a entrega de suprimentos.
Em setembro passado, dezenas de soldados foram mortos após jihadistas atacarem um comboio de cerca de 150 veículos que levava suprimentos para Djibo, capital de Soum, mesma província onde as mulheres foram sequestradas na semana passada.
No fim de dezembro, corpos de 28 homens mortos a tiros foram encontrados na cidade de Nouna. Investigadores que atuam no caso disseram que uma apuração foi iniciada, mas não deram detalhes. À Reuters, uma moradora relatou que dois homens armados entraram em sua casa, vendaram, roubaram e atiraram em seu marido três vezes.
A frustração com o fracasso das autoridades, em combater a violência, foi um dos fatores que geraram apoio popular a um golpe militar que, há um ano, depôs o presidente Roch Kaboré. Em setembro, o militar que capitaneou o golpe foi deposto em um outro golpe, mergulhando o País em ainda mais instabilidade.
Ex-colônia francesa, Burkina Fasso assistiu às relações com o País europeu se deteriorarem, a ponto de grupos organizados e a população civil demandarem a saída de tropas francesas — Paris tem cerca de 400 forças especiais no País — e o ingresso de tropas e mercenários da Rússia, como o Grupo Wagner.
Há poucas semanas, o regime local exigiu a substituição do embaixador francês, algo que o governo de Emmanuel Macron descartou. Chrysoula Zacharopoulou, secretária francesa para a Francofonia, esteve nesta semana em Uagadugu, onde se encontrou com o chefe da junta militar, Ibrahim Traoré, e afirmou que Paris continua a ser um “parceiro consistente e engajado de Burkina Fasso”.
Ela disse que debateu com o militar a insegurança no País e assegurou que a França continuaria a fornecer apoio. “Sabemos o preço que as Forças Armadas de Burkina Fasso e a população civil vêm pagando há anos”, afirmou a jornalistas.
O regime também declarou a agora ex-representante da ONU no País, Barbara Manzi, persona non grata e a expulsou, justificando que a italiana teria retirado os funcionários não essenciais, de sua equipe, da capital do País. “Isso é desacreditar, manchar a imagem do País e desestimular potenciais investidores”, argumentou a chanceler Olivia Rouamba na ocasião.
Com informações da Agência Amazônia