Após ataques a navios, coalizão encabeçada pelos EUA vai criar corredor seguro no Mar Vermelho; líder rebelde diz que responderá com mísseis

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Homens armados em praia do Iêmen com navio cargueiro ao fundo — Foto: Khaled Abdullah/Reuters

Redação – Em meio a uma série de ataques a navios cargueiros no Mar Vermelho, os Estados Unidos irão liderar uma coalizão para criar um corredor seguro na região —de modo a evitar ataques de rebeldes houthis, um grupo do Iêmen que apoia os palestinos do Hamas na guerra contra Israel.

O plano é que navios da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) criem uma espécie de escudo contra ataques de drones e mísseis deflagrados pelos rebeldes. Os ataques têm impactado uma dos principais rotas de distribuição de suprimentos do mundo, o Canal de Suez: o que tem potencial de ameaçar a economia mundial. Ao “Financial Times”, uma consultoria suíça em logística informou que 103 navios foram desviados desde os ataques.

Chamada de “Guardião da Prosperidade” e ainda em fase inicial, a operação visa enfrentar a recente escalada de ataques dos houthis.

“Navios e aeronaves de várias nações estão e continuarão a se juntar aos Estados Unidos na realização de vigilância marítima e tomando ações defensivas conforme apropriado para proteger navios comerciais da ameaça representada pelos Houthis”, afirmou na terça-feira (19) o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby.

Países como França, Itália, Holanda, Noruega, Espanha, Bahrein e Seychelles estão entre os participantes da operação.

Em reação, o chefe dos houthis, Abdel-Malek al-Houthi, disse nesta quarta (20) que o grupo não ficará de “braços cruzados” e atacará com mísseis os navios de guerra da coalizão. Os houthis são alinhados ao Irã e ao Hamas.

Entenda o que está acontecendo

Uma série de ataques a navios em trânsito no Mar Vermelho, em direção ao Canal de Suez, obrigou empresas de logística a mudar o trajeto de seus cargueiros, que terão que dar voltas maiores, o que pode ter consequências para a economia do mundo inteiro.

O Canal de Suez é a principal conexão entre a Ásia e a Europa, e o caminho marítimo que inclui o Mar Vermelho e o canal é importante para cadeias de suprimento de produtos em todo o mundo. A Agência de Energia dos Estados Unidos (EIA, por sua sigla em inglês) afirma que o local é “essencial para a segurança energética global” e no abastecimento de matérias-primas e mercadoria.

Os ataques foram feitos pelos rebeldes houthis, um grupo que apoia os palestinos do Hamas na guerra contra Israel. Entenda abaixo o que está acontecendo na região.

A guerra no Iêmen

O Iêmen vive uma guerra civil há anos na qual um grupo armado é apoiado pela Arábia Saudita, e o outro, pelo Irã. Esses últimos são os rebeldes houthis.

Nos últimos dias, os houthis começaram a atacar um novo alvo com foguetes e drones: os navios cargueiros que passam pelo Mar Vermelho com destino ao Canal de Suez.

O Mar Vermelho é um canal entre a Península Arábica e o continente africano. Em um ponto, no Estreito de Babelmândebe, a distância entre os dois continentes é de apenas 30 quilômetros de mar. Cerca de 10% dos bens comercializados no mundo atravessam essa passagem, de acordo com a agência de notícias Associated Press.

O Iêmen está em uma das pontas do estreito. Na segunda-feira (18) os houthis confirmaram dois ataques. Eles afirmam que vão atacar navios que têm alguma conexão com a guerra de Israel com o Hamas, mas na prática os alvos deles não são ligados ao conflito (veja abaixo quais foram os últimos cargueiros atacados).

Os EUA podem enviar militares para responder aos ataques dos rebeldes houthis. O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin afirmou que o país vai organizar uma força com representantes de diversas nações para “responder aos desafios de segurança no sul do Mar Vermelho e no Golfo de Aden, com o propósito de garantir a liberdade de navegação para todos os países”.

Cargueiros evitam a região

Os ataques a navios comerciais assustaram algumas das principais empresas de navegação e de petróleo do mundo. Na prática, elas estão desviando a rota comercial do Mar Vermelho.

Cerca de 50 navios atravessam o Canal de Suez por dia. Segundo o jornal “The New York Times”, os dados mais recentes apontam que pelo menos 32 mudaram de rota.

Essas mudanças devem causar atrasos e aumentos de preços.

A British Petroleum (BP) afirmou que decidiu “pausar temporariamente todo o trânsito pelo Mar Vermelho”, incluindo envios de petróleo, gás natural liquefeito e outros suprimentos de energia. Trata-se de uma “pausa de precaução”, segundo a empresa. A decisão não é definitiva.

Preços do petróleo e de gás natural subiram na Europa por causa do nervosismo do mercado em relação aos ataques dos houthis.

Pelo Canal de Suez também passam produtos alimentícios e produtos manufaturados. Ele foi inaugurado em 1869, para ligar o Mar Vermelho ao Mediterrâneo, e tem capacidade para receber navios gigantes de até 240 mil toneladas.

O canal permite que os navios economizem 9 mil quilômetros, de acordo com o World Maritime Transport Council (WSC), instituição que representa as principais empresas de transporte marítimo de carga.

John Stawpert, gerente sênior de meio ambiente e comércio da Câmara Internacional de Navegação, afirmou que uma interrupção da passagem de navios pelo Canal de Suez “tem o potencial de causar um enorme impacto econômico”.

Foi no canal que, em 2021, o cargueiro Ever Given ficou preso e interrompeu o trânsito de navios.

Cabo da Boa Esperança

Quatro das cinco maiores empresas de navios cargueiros do mundo suspenderam a passagem pelo Mar Vermelho ou redirecionaram o trajeto. São elas:

  • MSC,
  • Maersk,
  • Grupo CMA CGM e
  • Hapag-Lloyd

Simon Heaney, gerente senior da consultoria Drewry, diz que provavelmente todo o serviço de transporte vai ter que mudar de rota.

Alguns navios terão que contornar o Cabo da Boa Esperança, no sul da África. Segundo alguns analistas ouvidos pela Associated Press, isso pode aumentar o tempo de viagem em mais de uma semana.

As empresas podem colocar mais navios em circulação para compensar o tempo extra ou queimar mais combustível se decidirem ir mais rápido.

Isso tudo aumenta o custo do transporte, mas a alta de preços não deve ser semelhante à que ocorreu durante a pandemia, segundo Heaney, da Drewry.

Os ataques recentes

Um porta-voz dos houthis, o general Yahya Saree, disse que o grupo atacou os seguintes cargueiros:

  • O navio-tanque Swan Atlantic, de bandeira das Ilhas Cayman, que levava produtos químicos e petróleo.
  • O navio de carga MSC CLARA, de bandeira do Panamá.

Fora isso, outros navios afirmaram que foram atacados:

  • A operadora dinamarquesa Uni-Tankers afirmou que o navio Swan Atlantic, que transportava óleos vegetais para um território da França no Oceano Índico foi atingido por um objeto que provocou um pequeno incêndio. O fogo foi apagado, o navio recebeu auxílio militar e seguiu a jornada

Com informações do g1

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