Fraude na compra de merenda escolar por R$ 11,4 milhões motivou operação da PF

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Em 2020, mais de 20 mil kits do projeto “Hora da Merenda” foram distribuídos pela Prefeitura de Manaus (Divulgação/Semcom)

Redação – A suspeita de fraude na dispensa de licitação para a aquisição de 20 mil kits do projeto “Hora da Merenda” pela Prefeitura de Manaus, em 2020, motivou a “Operação Sem Sabor“, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta terça-feira, 25. Na época, a gestão municipal adquiriu alimentos no valor de R$ 11,4 milhões para os estudantes em isolamento social. A investigação aponta o desvio de recursos públicos.

Servidores públicos e empresários estão sendo investigados, segundo a Polícia Federal. O esquema envolve a aquisição de alimentos fornecidos pela empresa A Chaves Coimbra, sob o CNPJ 12.023.960/0001-56, com o nome fantasia Ranchão Comércio de Produtos Alimentícios Ltda.

Detalhes do empenho da Prefeitura de Manaus com a empresa A Chaves Coimbra (Reprodução/Portal da Transparência)

Naquele ano, mais de 20 mil kits do projeto “Hora da Merenda” foram distribuídos em mais de 28 unidades escolares da Secretaria Municipal de Educação (Semed), sob a gestão da secretária Kátia Schweickardt. As cestas continham itens básicos, como arroz, macarrão, farinha, açúcar e outros produtos. A entrega considerou o período em que as aulas presenciais foram suspensas por causa do isolamento social.

Segundo a investigação da Polícia Federal, a empresa contratada não possuía capacidade operacional e foi favorecida no “processo irregular” realizado em 2020, resultando em “prejuízos milionários aos cofres públicos“. As investigações começaram a partir de uma ação popular e de auditorias do Ministério Público Federal (MPF) e do Tribunal de Contas da União (TCU).

Sem endereço

De acordo com o Comprovante de Inscrição e de Situação Cadastral da Receita Federal, o empreendimento funciona em um beco no bairro Educandos, Zona Sul de Manaus. Uma equipe da Cenarium esteve no endereço e constatou que, no local, funciona o Frigorífico Peixão. Moradores da região confirmaram, que no endereço não há outra empresa além do frigorífico há mais de 20 anos.

Comprovante de Situação Cadastral da A Chaves Coimbra (Reprodução)

Irregularidades

Nas auditorias do MPF e do TCU, foram identificadas irregularidades na contratação da fornecedora dos kits de merenda, como indícios de uso indevido da dispensa de licitação, superfaturamento e movimentações financeiras suspeitas entre empresas envolvidas no certame.

A PF afirma, ainda, que há suspeita de direcionamento da contratação, uma vez que a empresa vencedora não possuía histórico de fornecimento de gêneros alimentícios para o setor público e tinha sede em um local desconhecido.

Ainda de acordo com a Polícia Federal, servidores públicos, empresários e intermediários manipularam o processo licitatório para beneficiar a empresa contratada. Um levantamento bancário mostrou que parte dos valores pagos pela Prefeitura de Manaus, na época, foi imediatamente repassada a uma das empresas concorrentes. Também foram identificadas conexões empresariais entre os envolvidos, sugerindo uma atuação coordenada para favorecer a fornecedora.

TCU investigou superfaturamento

O TCU começou a investigar a Prefeitura de Manaus por superfaturamento de R$ 2,8 milhões na compra de merenda escolar. Por meio do Programa Especial de Atuação no Enfrentamento à Crise da Covid-19 (Coopera), o órgão analisou o processo de aquisição dos “kits de merenda”.

Conforme o tribunal, a gestão municipal pagou R$ 4 por pacote de achocolatado em pó (400g), enquanto o setor técnico do órgão encontrou o mesmo produto por R$ 2,51, um preço R$ 1,49 mais baixo. O feijão carioca tipo 1 (1kg) custou R$ 8 para a prefeitura à época, porém, o TCU registrou o mesmo produto por R$ 4,99, um preço R$ 3,01 inferior.

A Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas (Selog) do TCU também detectou a ausência de planejamento adequado para a contratação dos alimentos. A compra por dispensa de licitação ocorreu, segundo o órgão técnico, sem que a gestão justificasse a previsão legal para a escolha da modalidade.

No entendimento do TCU, também houve direcionamento da contratação, uma vez que outros fornecedores da prefeitura não foram convocados. Com isso, a pesquisa de preços ficou limitada às empresas que foram convidadas a apresentar proposta, o que prejudicou a avaliação de se os valores ofertados estavam compatíveis com os praticados no mercado.

Reportagem Agência Cenarium

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