
Redação – Autoridades de Portugal e Espanha disseram nesta terça-feira (29/4) que não há indícios de que um ataque cibernético tenha provocado o apagão do dia anterior, que deixou milhões sem eletricidade na Espanha e Portugal.
A causa do apagão ainda é desconhecida, e está sendo investigada pelas autoridades. O governo espanhol negou indícios de ataques cibernéticos, mas disse que está investigando “todas as possibilidades”.
A operadora espanhola de eletricidade Red Eléctrica disse que dois eventos consecutivos, com um segundo entre si, provocaram os apagões — e afirmou que não houve indícios de erro humano.
A empresa não detalhou o que seriam os eventos. O diretor de serviços operacionais da companhia, Eduardo Prieto, disse que a rede elétrica conseguiu se recuperar do primeiro evento, mas não do segundo. Ele disse que a Red Eléctrica conseguiu reestabelecer a luz com uma operação de turbinas de gás e vapor.
Prieto disse que é “muito possível” que houve problemas na geração de energia solar, mas destacou que ainda não há informações suficientes para uma conclusão.
No entanto, o premiê espanhol, Pedro Sánchez, descartou problemas com energia renovável no apagão.
Nesta terça-feira, Sánchez disse que vai usar as investigações para reforçar o sistema elétrico espanhol. Segundo ele, o que aconteceu na segunda-feira “não pode se repetir nunca mais”.
Ele também disse que o governo vai cobrar “responsabilidade das operadoras privadas”.
Nesta terça-feira, a energia elétrica na Espanha foi quase totalmente restaurada e as subestações em Portugal foram reativadas após os apagões em massa registrados na segunda-feira.
O governo espanhol disse que serviços de telefonia e fibra ótica voltaram a funcionar em 90% do país.
O Aberto de Tênis de Madri, que havia sido interrompido, foi retomado nesta terça-feira.
Os grandes cortes de energia causaram grandes transtornos — e um estado de emergência permanece em vigor na Espanha.
Foram registradas cenas de confusão em estações de trem, e as aulas foram suspensas em muitas áreas da Espanha nesta terça-feira (29/4). Mais de 500 voos foram cancelados.
Na segunda-feira, o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, afirmou que “não há indícios” de um ataque cibernético, enquanto o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, alertou contra qualquer especulação enquanto as investigações não avançarem.
Mas na terça-feira, a Suprema Corte da Espanha anunciou que vai abrir uma investigação para determinar se houve ataques cibernéticos ou terrorismo envolvido no apagão.

Foto: Patricia DE MELO MOREIRA / AFP
Como o apagão começou
O enorme apagão atingiu Portugal e Espanha na segunda-feira (28/4) e provocou confusão e problemas em diversos serviços.
Andorra e partes da França também relataram cortes de energia.
Na Espanha, restaurantes e lojas ficaram sem luz, e o Aberto de Tênis de Madri foi suspenso.
Da mesma forma como em Portugal, o metrô parou de funcionar, assim como os semáforos, o que gerou um grande caos no trânsito.
Nas redes sociais, circularam vídeos de passageiros caminhando pelas estações escuras de metrô.
Os aeroportos também registraram cancelamento de diversos voos. A companhia aérea portuguesa TAP chegou a fazer um alerta para que passageiros não se dirijam ao aeroporto.https://flo.uri.sh/visualisation/22914269/embed?auto=1
A entidade comercial que representa o setor elétrico na Europa disse à BBC que ocorreu um problema com a conexão de energia entre a França e a Espanha.
Kristian Ruby, secretário-geral da Eurelectric, também descreveu a interrupção como “algo muito, muito raro”.
“Houve um problema técnico específico que surgiu e, portanto, a rede espanhola foi desconectada da rede europeia mais ampla hoje mais cedo”, afirmou Ruby.
“Agora, a julgar apenas por essa situação, não se poderia imaginar que isso causaria um corte de energia em toda a Península Ibérica, então minha avaliação é que provavelmente houve outros elementos nessa equação que causaram essa situação.”

O apagão está relacionado a um ataque cibernético?
As autoridades de Portugal e Espanha têm dito que não há indícios de um ataque cibernético.
Mas para Joe Tidy, correspondente de cibersegurança da BBC News, a resposta simples é sim, pode ser um ataque cibernético, já que nunca se pode dizer “nunca” quando o assunto é vulnerabilidade das redes de internet.
No entanto, segundo ele, é muito cedo para confirmar os motivos do apagão — e é muito mais provável que algum tipo de acidente ou erro técnico tenha causado a interrupção no fornecimento de eletricidade.
Se de fato o evento está relacionado a um ataque cibernético, isso seria completamente sem precedentes em escala e impacto, avalia Tidy.
Redes elétricas já foram desconectadas no passado — duas vezes, até onde se sabe.
Na primeira delas, hackers patrocinados pelo Estado russo foram acusados de causar cortes de energia na Ucrânia.
Dezenas de milhares de casas ficaram sem energia por horas no frio inverno de 2015.
O mesmo grupo é vinculado a uma ação repetida e bem-sucedida à capital Kiev, um ano depois do primeiro episódio.
Os dois ataques chocaram o mundo cibernético à época e foram extremamente sofisticados. Eles provavelmente envolveram meses de trabalho dos invasores.
Mas ambos foram localizados e corrigidos em poucas horas.
Se o que está acontecendo agora em Portugal e Espanha fosse algum tipo de ataque, seria uma escalada massiva do que se pensava ser possível, pontua o correspondente da BBC News.
Fonte: BBC Brasil