
Redação – A atriz trans e estudante indígena Maria do Rio Negro Kaxinawá afirmou, nessa sexta-feira, 4, que foi vítima de transfobia e racismo em uma academia localizada na Avenida José Lindoso, no bairro Parque Dez, na Zona Centro-Sul de Manaus. Em vídeo publicado nas redes sociais, ela explicou que o caso, registrado na quinta-feira, 3, ocorreu quando um funcionário do estabelecimento a abordou informando que algumas mulheres se sentiam incomodadas por ela estar usando o banheiro feminino do espaço.
“Eu fui vítima de transfobia e de racismo. Um funcionário da academia me abordou dizendo que várias mulheres estavam incomodadas com o fato de eu usar o banheiro feminino e que elas pediram para ele vir me dizer isso. Ele também falou que eu deveria me comportar porque eu estava dançando demais. Esse funcionário me abordou na frente de todas as pessoas, de uma forma humilhante, rindo, com celular na mão, debochando de mim. Um dos seguranças da academia, inclusive, chegou a me empurrar”, esclareceu.
De acordo com Maria, a abordagem foi realizada em público e, além da declaração, o trabalhador do estabelecimento disse para que a atriz se comportasse, pois estaria “dançando demais” no espaço. No pronunciamento, a mulher também negou ter filmado outras pessoas no banheiro feminino da academia e disse que a acusação contra ela, que circulou nas redes sociais nessa sexta-feira, 4, “é uma forma de as pessoas deslegitimarem” a sua história.
“É importante dizer que as notícias que estão circulando por aí não partiram de mim. O que aconteceu foi, sim, transfobia e foi racismo. Eu nego todas as informações que estão circulando por aí. As pessoas estão dizendo que eu estava gravando mulheres no banheiro. Isso é mentira. Eu não gravei ninguém. Isso é uma forma de as pessoas deslegitimarem a minha dor, a minha história”, pontuou no vídeo.
Durante a gravação, a atriz informou, ainda, que a Polícia Militar do Amazonas (PM-AM) foi acionada por ela para ir ao local. Conforme o relato da mulher, os agentes que atenderam a ocorrência orientaram que ela deixasse o espaço para a sua segurança. Os militares também pediram para que Maria registrasse um Boletim de Ocorrência (BO) sobre o caso.
Comentários transfóbicos
Com a repercussão do caso, comentários transfóbicos foram proferidos contra a indígena trans por meio das redes sociais. Um usuário comentou que Maria deveria usar o banheiro masculino e que a presença dela em banheiros femininos deixaria outras mulheres desconfortáveis. Outro internauta orientou a indígena a “voltar para a aldeia”. Veja comentários:


Foto: reprodução Agência Cenarium
A estudante tem compartilhado os ataques e se pronunciado por meio do seu perfil. “Eu não vou me calar, o que aconteceu comigo acontece com muitas pessoas trans, indígenas e racializadas como eu neste País, e eu não vou me calar”, declarou.
Crime
O Supremo Tribunal Federal (STF), em 2019, decidiu pela criminalização da homofobia e transfobia, que passaram a ser enquadradas na Lei 7.716/89, que pune o crime de racismo. A pena para condenados varia de um a três anos de reclusão. A punição pode chegar a cinco anos de reclusão se houver ampla divulgação do crime. A legislação também prevê multa.
A CENARIUM entrou em contato com a Polícia Militar do Amazonas (PM-AM) para obter mais detalhes sobre a ocorrência e aguarda resposta. A reportagem também solicitou nota à Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Amazonas (Assotram) sobre o caso, mas, até o fechamento desta matéria, não obteve retorno. A academia onde o caso foi registrado também foi consultada para posicionar-se quanto à acusação contra o funcionário. O espaço segue aberto.
Com informações da Agência Cenarium