Bolsonaro promoveu caos e tentou golpe na pandemia, apontam estudos

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O ex-presidente Jair Bolsonaro (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Redação – Estudos científicos publicados entre 2019 e 2022 revelam um padrão deliberado de ações do ex-presidente Jair Bolsonaro que não apenas contribuíram para a catástrofe sanitária da pandemia de COVID-19, mas também atentaram contra instituições democráticas e colocaram em risco os povos indígenas, o meio ambiente e a saúde pública. Os estudos científicos, foram publicados em periódicos de alto prestígio, como Environmental Conservation (Cambridge University Press), Nature Medicine, Journal of Public Health Policy (Springer Nature), DIE ERDE (Associação Geográfica de Berlin) e Preventive Medicine Reports (Elsevier), e constituem um dossiê técnico que evidencia a tentativa de Bolsonaro de desestabilizar o país e consolidar um projeto autoritário.

Desde antes da pandemia, Bolsonaro já demonstrava desprezo pela proteção ambiental, pelos direitos indígenas e pela ciência. No artigo “Novo presidente do Brasil e ‘ruralistas’ ameaçam o meio ambiente da Amazônia, os povos tradicionais e o clima global” (Environmental Conservation, 2019), eu e o pesquisador do INPA Philip Fearnside, apontamos como Bolsonaro, apoiado pela bancada ruralista, tentou enfraquecer o IBAMA, desmontar políticas ambientais e transferir competências de demarcação de terras indígenas ao Ministério da Agricultura, comandado por ruralistas. Essas medidas já prenunciavam o desmonte institucional que se aprofundaria com a chegada da pandemia.

Estado de emergência global em saúde pública foi decretado em 11 de março de 2020. Na foto, soldados sul-coreanos desinfectam o aeroporto internacional em Daegu, no início da pandemia (Reprodução/Kim Kyung-Hoon)

Durante a crise sanitária, Bolsonaro adotou uma postura negacionista, promovendo medicamentos ineficazes como cloroquina e ivermectina, atacando o uso de máscaras e sabotando medidas de distanciamento social. No artigo “Como o presidente do Brasil transformou o país em um epicentro global da COVID-19” (Journal of Public Health Policy, 2021), eu e mais sete pesquisadores demonstramos que Bolsonaro instrumentalizou o caos sanitário para tentar obter poderes excepcionais, propondo inclusive um “estado de mobilização nacional” e pressionando as Forças Armadas para apoiar suas medidas anticientíficas. A recusa do então ministro da Defesa em apoiar essas propostas levou à sua demissão e à renúncia coletiva dos comandantes das três Forças, revelando uma tentativa clara de capturar o aparato militar para fins autoritários. Uma clara primeira tentativa de golpe de estado!

O uso do Exército como ferramenta de dominação e desinformação também foi denunciado no artigo “Forças militares e COVID-19 como cortinas de fumaça para a destruição da Amazônia e violação dos direitos indígenas” (DIE ERDE, 2020), onde alertamos que a militarização da política ambiental e a criação do “Conselho da Amazônia”, comandado pelo general Hamilton Mourão, serviram como cortina de fumaça para o desmonte de normas ambientais e o avanço de invasores em terras indígenas.

Um dos casos mais emblemáticos da omissão criminosa do governo federal ocorreu em Manaus, durante a segunda onda da pandemia. No artigo “Dinâmica da COVID-19 na Amazônia: uma história de negacionismo governamental e o risco de uma terceira onda” (Preventive Medicine Reports, 2022), eu e mais oito pesquisadores demonstramos que o colapso do sistema de saúde, incluindo a falta de oxigênio, poderia ter sido evitado com planejamento adequado. Em vez disso, o governo federal optou por usar o episódio para promover a rodovia BR-319 como rota de abastecimento, mesmo sabendo que a alternativa fluvial era mais rápida e eficiente. O estudo mostra ainda que a reabertura precoce das escolas em Manaus, articulada entre o presidente Bolsonaro e o governador do Amazonas, Wilson Lima, foi uma estratégia deliberada para provocar contágio em massa com o objetivo de atingir “imunidade de rebanho” — uma medida amplamente condenada por especialistas e que resultou em milhares de mortes evitáveis.

A adesão de Wilson Lima à ideologia bolsonarista fica clara nesses estudos. Em 2020, enquanto diversos pesquisadores pediam lockdown para conter o avanço do vírus no Amazonas, o governador se aliou ao setor empresarial e judicializou tentativas de fechamento, conforme detalhado no estudo científico que deu o alerta de segunda onda de COVID-19 no periódico Nature Medicine. Recentemente, o governador Wilson Lima manifestou apoio, ao lado de Jair Bolsonaro, à anistia dos envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro.

Os estudos são enfáticos ao demonstrar que, ao ignorar evidências científicas, sabotar medidas de contenção da pandemia, militarizar a gestão ambiental, perseguir pesquisadores e enfraquecer os mecanismos democráticos de controle, Jair Bolsonaro implementou um projeto de desgoverno orientado à erosão institucional e à consolidação de um regime autoritário. Wilson Lima, ao endossar essa estratégia no Amazonas, tornou-se cúmplice de uma política que causou milhares de mortes evitáveis e ameaçou o futuro da floresta amazônica e de seus povos. Como conclui o artigo da Journal of Public Health Policy, “O caos criado pela pandemia contribui para o seu esforço de enfraquecer as instituições democráticas (como o Congresso Nacional, o Judiciário, os governos estaduais e os ministérios da Educação e do Meio Ambiente), assim como o caos que Bolsonaro provocou de diversas maneiras ao longo de sua presidência cria uma sensação constante de “estado de exceção” e serve como uma “escada” para aumentar seu poder em detrimento do progresso social duramente conquistado.”

Fonte Agência Cenarium

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