
Redação – Dez anos após o Acordo de Paris, o planeta segue fora do caminho para conter o aquecimento global. O novo Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2025, divulgado nesta terça-feira, 4, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), aponta que, mesmo com os compromissos climáticos nacionais em vigor, o mundo caminha para um aquecimento de 2,3°C a 2,5°C neste século – bem acima da meta de 1,5°C.
“As nações tiveram três tentativas para cumprir as promessas feitas no âmbito do Acordo de Paris, e elas erraram o alvo”, afirmou Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA. Segundo ela, as novas metas “mal moveram o ponteiro”, e “a média pluridecenal da temperatura global excederá 1,5°C, muito provavelmente na próxima década”.

Emissões em alta e promessas insuficientes
O relatório mostra que as emissões globais de gases de efeito estufa atingiram um novo recorde em 2024, chegando a 57,7 gigatoneladas de CO₂ equivalente, um aumento de 2,3% em relação a 2023. O crescimento foi impulsionado, principalmente, pelo desmatamento e pela queima de combustíveis fósseis.
Apesar de alguns avanços tecnológicos, o PNUMA adverte que apenas 60 países, responsáveis por 63% das emissões globais, apresentaram novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) com metas até 2035. “Os novos compromissos são modestos e não aceleram o progresso no ritmo necessário”, destaca o relatório.
Andersen reforça que o mundo precisaria reduzir as emissões em 25% até 2030 para manter o aquecimento em 2°C – e 40% para a meta de 1,5°C. “Ainda é possível – por pouco. Já existem soluções comprovadas. Desde o rápido crescimento das energias renováveis baratas até o combate às emissões de metano, sabemos o que é preciso fazer”, afirmou.
‘Fora da meta’
A análise do PNUMA revela que mesmo a implementação integral das NDCs não bastaria. As reduções previstas até 2035 seriam de apenas 15% em relação a 2019, quando o necessário seria 35% para 2°C e 55% para 1,5°C. O relatório calcula, ainda, que o excesso temporário da meta de 1,5°C é inevitável, podendo chegar a 0,3°C de ultrapassagem antes de um possível retorno até 2100 – se cortes drásticos forem feitos a partir de agora.
A cientista Clare Shakya, diretora global de clima da organização The Nature Conservancy, resumiu o sentimento da comunidade científica: “O mais recente Emissions Gap Report 2025 é ao mesmo tempo chocante e totalmente previsível – chocante pela clareza contundente de suas conclusões, mas previsível porque já sabemos o quanto a ação climática global tem falhado em corresponder às realidades vividas pelas comunidades na linha de frente”.
Ela destacou a importância da COP30, que será realizada em Belém (PA) entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025. “A oportunidade que se apresenta é breve, mas poderosa: nas próximas duas semanas, enquanto a atenção do mundo se volta para o clima, devemos exigir uma ação mais rápida e ousada, com a natureza no centro da nossa resposta”, afirma.

G20 sob os holofotes
O relatório dedica um alerta especial às maiores economias do planeta. Os países do G20 respondem por 77% das emissões globais e, segundo o PNUMA, estão fora do caminho para cumprir até mesmo suas próprias metas de 2030. “Precisamos de reduções de emissões sem precedentes em um prazo cada vez mais curto, em um cenário geopolítico cada vez mais desafiador”, reforçou Andersen.
Ela afirmou que a liderança do G20 será decisiva: “Os membros do G20 precisam recalibrar suas miras e lembrar das recompensas ao atingir metas climáticas mais fortes: crescimento econômico mais rápido, mais empregos, segurança energética e resiliência.”
Fonte: AGÊNCIA CENARIUM
