Garantido apresenta sua melhor noite e se despede do Festival aclamado por sua torcida

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Na terceira e última noite, despedindo-se do 54° Festival de Parintins, o “Boi do Coração na Testa” mostrou o “Garantido: o Boi da Liberdade do Povo” em suas várias nuances, mas sempre lembrando da história e significado de seu criador, o pescador, neto de negros escravizados e juticultor Lindolfo Monteverde.

A apresentação foi a melhor do Boi nas três noites deste Festival, com a associação dando um espetáculo cênico, musical e contagiando a galera vermelha e branca e encerrando com gritos de “É campeão!”.

A mensagem é de que o ser livre  luta contra todas as formas de opressão porque entende que o ser oprimido não se alegra, não canta a felicidade porque é infeliz. Já no Garantido, pelo contrário, a dança, as toadas, as alegorias e o canto do Boi são manifestações de lutas, das alegrias e da liberdade expressas no ser artístico.

Assim como na primeira noite, a filha de Lindolfo Monteverde, Maria do Carmo Monteverde, adentrou a Arena do Bumbódromo junto com o Apresentador Oficial Israel Paulain, o Amo do Boi Gaspar Medeiros e o próprio Boi Garantido.

Na Celebração Folclórica “Sonhos de Liberdade”, a associação relembrou do terreiro da mãe de Lindolfo, Alexandrina Monteverde, a “Dona Xanda”, que ficava localizada na Baixa do São José, berço da tradição do Garantido. O Boi reverenciou e celebrou a cultura popular numa grande festa de liberdade criativa do povo, em um cenário no qual o folclore está impresso na beleza das cores e em esculturas fantásticas que amparam a representação das brincadeiras de boi no Brasil.

Quatro bumbas-meu-boi fizeram parte da alegoria, que veio com dois vaqueiros gigantes (com a imagem de Jesus Cristo em lugar da tradicional lança) e um Lindolfo Monteverde de braços abertos com a tradicional roupa da Batucada do Garantido. Vaqueiros vieram do centro da alegoria e, claro, antecederam o surgimento do Boi Garantido elevado por um módulo. Em seus versos o Amo Gaspar Medeiros convidou o mundo a visitar Parintins e prestigiar o Festival e cutucou o seu adversário dizendo que “Amo não toca barrente; Amo é dono da boiada”. E quem tocou o berrante foi o cantor Edilson Santana, que veio fantasiado de vaqueiro com “burrinha” e tudo.

A estrutura da celebração folclórica também contou com a Sinhazinha da Fazenda, Djidja Cardoso – que evoluiu com um belo vestido rosa – e a Rainha do Folclore, Brenda Beltrão – numa fantasia esvoaçante com penas vermelhas, amarelas e verdes.

A alegoria mostrou toda a genialidade do artista Mestre Jair Mendes, que criou, em parceria com o também artista de ponta Vandir Santos e equipe, uma estrutura alegórica de 19 metros de altura, com colossais 31,25m de boca de cena e 10 módulos, que vão trazer 100 dançarinos de Manaus das companhias de dança Gedan, Alta, Experimental, Pesquisa de Dança e Síria.

Para embalar toda essa beleza, as toada clássicas “Sonho de Liberdade”, de Chico da Silva, Tadeu Garcia e Roseane Nôvo, e “Tic-Tic-Tac”, de Braulino Lima. E o Garantido evoluindo para a galera com bandeirinhas vermelhas e brancas e pompons prateados, amarelos e vermelhos.

Ao comando do Pajé Adriano Paketá, tribos entraram na Arena: era a hora da celebração tribal das etnias e antecedendo os três tuchauas. Nesse momento, o levantador Sebastião Júnior cantou uma toada composta por ele próprio: “Celebração da Fé”, que cita várias etnias.

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Foto: Jair Araújo

 

LENDA AMAZÔNICA

“Wadye, Devorador de Cunhãs” foi a Lenda Amazônica nesta terceira noite, numa recriação da lenda da tribo indígena kamakã, que habitou vários trechos da Amazônia Legal e depois se dispersou. O mito do monstro Wadye foi repassado em 1938 por uma índia anciã, remanescente da tribo, Jacinta Grayira. Wadye é associado ao branco colonizador que ataca as aldeias, rouba suas terras, suas mulheres e desvirtua suas crenças.

A encenação da lenda foi fenomenal e ao mesmo empolgante: nela, a cunhã-poranga Isabelle Nogueira, veio elevada por um ser esquelético voador e abrandou a fúria do monstro num combate sobrenatural, tornando-o dócil. A representação mostrou o olhar perplexo da tribo e muitas comemorações. Depois, a Cunhã dançou com toda a sua graça e beleza.

A genial alegoria foi concebida pelo artista de ponta Vivaldo Feijó, conhecido como Junhão, que teve o apoio de 17 outros artistas de galpão. Ela veio com 20 metros de altura, 34m de boca de cena e oito módulos, e com um corpo de 60 dançarinos do grupo Parintins, de Maués.

A noite foi de homenagens a Chico da Silva com a execução da toada “Vermelho”. Palmas e ovação geral.

Em outro momento emocionante, Sebastião Júnior e a cantora Márcia Siqueira cantaram “Rosas Vermelhas”, composta por Enéas Dias e um dos hits do Festival deste ano: um clamor pelo respeito às mulheres e à igualdade de gênero. Só aplausos no Bumbódromo.

E se é pra emocionar, então que rolem lágrimas: na hora de executar a concorrente à Toada, Letra e Musica, Festa da Liberdade, Sebastião Júnior emociono-se a ponto de chorar. Era momento de sensibilidade.

CABOCLITUDE

A Figura Típica Regional da terceira e última noite do Boi Garantido foi “O Caboclo” amazônico, grande personagem resultado dos primeiros 200 anos da ocupação europeia: ele é o biotipo original da mistura do índio e do branco colonizador.

A estrutura alegórica retratou as figuras do pescador, juteiro e o erveiro, num cenário ribeirinho. A Porta-Estandarte Edilene Tavares veio nas mãos de uma yara.

Feita pelos artistas Marialvo Brandão e Roberto Reis, a alegoria tinha 19 metros de altura e 32m de boca de cena, com sete módulos e um total de 100 atores da cênica do Garantido de Parintins.

O Apresentador Israel Paulain não se conteve e foi para o setor de animadores de galera para ficar o mais próximo possível da torcida, que delirou. “Sem o povo não existe pátria”, bradou ele.

Num dos momentos altos da noite do Garantido, uma tribo coreografada, composta por dançarinos do grupo Garantido Show de Parintins, mostrou uma cênica com serpentes que se esticaram verticalmente. O lado vermelho entrou em êxtase.

RITUAL

O esperado ritual enfocou “Palikur, o Triunfo da Luz”, abordando a transcedência dos índios Palikur, do Norte da foz do Amazonas, que acreditam na relação entre o mundo terrestre visível e o mundo celeste sobrenatural.

Nele, o Pajé transcende ao plano espiritual onde o mundo terrestre e o célebre estão para ser devorados por espíritos do submundo e devoradores de gente. Em transe, ele surgiu do alto da alegoria e, quando desceu, uma serpente gigantesca virou-se para a sua direção até ele escapar.

Mas não parou por aí: seguindo o ritual, o Pajé rastejou para abrandar a fúria dos espíritos devoradores e conseguir a cura imortal para a tribo, ou seja, a passagem para a vida eterna.

Foram 20 metros de altura e 35,8m de boca de cena com 12 módulos e 80 dançarinos dos grupos Garantido Show e Ágata, de Manaus encenando na estrutura alegórica.

O momento foi encenado tendo como fundo a toada “Triunfo da Luz”, de Demetrios Haidos e Naferson Cruz.

Diferente do segundo dia, quando quase extrapolou o tempo de 2h30, o Garantido finalizou a sua participação na segunda noite com tranquilidade, gravando 2h27min07.

Foi o tempo de aproveitar os minutos finais para interagir com a galera, com Sebastião Júnior cantando ao violão clássicos como “Tic-Tic-Tac”, a galera vermelha e branca saudando todos os brincantes e todos brincando de boi-bumbá. Assim como na primeira noite, a saída foi com o grito de “É campeão!”

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