O vice-diretor de pesquisa da Fiocruz Amazônia, Felipe Naveca, disse nesta sexta-feira (14) que mais de 100 testes foram realizados para identificar se a variante do Reino Unido de coronavírus já se espalhou por Manaus. O pesquisador também afirmou que na próxima semana a Fiocruz deve ter novas informações se já se trata de uma transmissão comunitária ou um caso isolado de infecção.
O Governo do Amazonas anunciou nessa quinta (13) a confirmação de um caso da variante de Covid-19 do Reino Unido, conhecida como B.1.1.7, em um paciente de Manaus. Trata-se de um morador de São Paulo, de 46 anos, que esteve na capital amazonense para prestar serviços em uma empresa do Polo Industrial. Ainda segundo o governo, o homem não foi vacinado contra a Covid-19 e não possui comorbidades.
“Nesse caso, sequenciamos mais de 100 amostras do mesmo período e até agora a variante só foi [identificada] em uma. Acreditamos com isso que, se existem outros casos, a frequência é baixa ainda, senão teríamos detectado mais no mesmo período. Mas na semana que vem já vamos ter outros resultados para saber se tivemos outros casos aqui”, declarou.
Naveca também disse que a nova variante, apesar de ser perigosa, não deve ser pior que a variante detectada no Amazonas, conhecida como P.1. No entanto, o pesquisador alertou que é preciso manter os cuidados e ficar atento numa possível transmissão comunitária da mutação.
“Tem três variantes hoje que a OMS reconhece como as mais importantes, então a gente ter duas delas aqui é realmente algo para ficarmos alertas. Mas isso já aconteceu em outros estados, como São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro. Ao que tudo indica essa variante não é pior do que a P.1, mas ela já foi associada com o aumento de casos graves na Inglaterra e a gente precisa ficar alerta”.
Para barrar uma possível transmissão desenfreada da nova variante em Manaus e no Amazonas, o pesquisador também explicou que somente a vacinação em massa da população pode ajudar.
“A vacinação vai ajudar muito, mas ela precisa avançar. Na Inglaterra segurou o avanço dessa variante e, no pior momento, eles fizeram um lockdown bem rígido. Aqui, como foi só um caso, nós testamos várias pessoas que possivelmente tiveram contato com esse paciente, para sabermos se foi um fato isolado, porque era uma pessoa que veio de São Paulo, ou saber se iniciou uma transmissão local”.
Ao G1, Naveca também falou sobre os casos de aglomerações no Dia das Mães. Segundo ele, é preciso entender que a pandemia não acabou e as pessoas vacinadas não estão livres de serem infectadas.
“O aumento de aglomerações nessas datas comemorativas são muito prejudiciais. Ainda não acabou a pandemia e as pessoas vacinadas podem se infectar. Isso daí é um erro muito comum que as pessoas cometem. Elas acham que se tomarem a vacina, não se infectam”, afirmou.
“Os estudos mostram que se a pessoa tomou as duas doses da vacina, a chance de ter a forma grave da doença é nenhuma, mas não significa que eu não me infecto. Posso me infectar e transmitir para quem não foi vacinado”.
Por isso, o pesquisador voltou a reforçar a importância da vacinação. Mas, ela ainda não segue no ritmo ideal para conter a pandemia no país. Para ele, a falta de insumos, anunciada pelo Instituto Butantan, que produz a Coronavac, e pela Fiocruz, que está à frente da produção da vacina Astrazeneca/Oxford, também pode prejudicar ainda mais o ritmo da imunização dos grupos prioritários.
“A velocidade não é a ideal ainda. E não é falta de infraestrutura de distribuição. O Brasil é, historicamente, reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um dos países que têm uma das melhores campanhas de vacinação. O problema é oferta, é ter a vacina. Como vimos nos noticiários, inclusive, estamos com problemas em receber insumos da China. Isso é o motivo de ter diminuído. A Coronavac parou a produção. A situação é complicada”, lamentou.
Perfil da variante
A variante B.1.1.7 foi detectada no Reino Unido em setembro de 2020, e desde então já foi encontrada em mais de 100 países. Ela tem 23 mutações em seu código genético – um número relativamente alto de alterações –, e algumas destas a tornaram muito mais capaz de se disseminar.
Cientistas britânicos dizem que ela é entre 40% e 70% mais transmissível do que variantes do coronavírus em circulação que antes predominavam.
Monitoramento em Manaus
Nessa quinta-feira (13), a equipe de FVS-AM continua realizando investigação e busca ativa no hotel no qual o profissional esteve hospedado em Manaus, dando continuidade à investigação do relato de atividade de pesca esportiva.
Foram coletadas amostras de secreção de nasofaringe para diagnóstico, por meio de exame RT-PCR, de contatos próximos ao paciente. As amostras foram encaminhadas à Fundação Oswaldo Cruz: Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia).
A investigação epidemiológica constatou que nenhum profissional da empresa, que o paciente entrou em contato durante o serviço, apresentou sintomas gripais no período no qual o profissional esteve na empresa. Não foi constatado, ainda, afastamento de profissionais no período de 10 de abril até esta quinta-feira (13).
Ainda entre as ações, foram realizadas orientações para a empresa quanto à adoção de protocolos para testagem dos profissionais terceirizados vindos de outros estados, em 48 horas antes de se apresentarem na empresa. Além disso, foi reforçada a importância do uso de máscara, distanciamento social, higiene das mãos e afastamento em caso de sintomas gripais.
Fonte: G1 Amazonas