Depoimento de ‘Capitã Cloroquina’ à CPI reforça tese de omissão de Bolsonaro na crise do Amazonas

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Questionada sobre a divergência de versões, Mayra reafirmou que o ex-ministro teve conhecimento do desabastecimento do oxigênio em Manaus em 8 de janeiro (Reprodução/Internet)
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Questionada sobre a divergência de versões, Mayra reafirmou que o ex-ministro teve conhecimento do desabastecimento do oxigênio em Manaus em 8 de janeiro (Reprodução/Internet)

BRASÍLIA – Em depoimento de seis horas e meia à CPI da Covid, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, reforçou a suspeita da cúpula da comissão de que houve omissão do Governo Bolsonaro na crise de oxigênio no Amazonas. Informações prestadas pela médica aos senadores indicaram que o Ministério da Saúde soube com antecedência da crise de oxigênio no Estado e não agiu em tempo hábil para combater o colapso no sistema de saúde.

Mayra contradisse o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, sobre o momento em que a pasta foi informada do problema no abastecimento de oxigênio hospitalar em Manaus, no início do ano. Pazuello afirmou que foi avisado sobre a crise no dia 10 de janeiro. Ela, por sua vez, declarou que conversou sobre o assunto com o general em 8 de janeiro.

Conhecida como “Capitã Cloroquina” por sua defesa veemente do medicamento sem eficácia comprovada para o tratamento de Covid-19, Mayra disse aos senadores que não teve informações sobre problemas quando esteve em Manaus. A visita ocorreu entre os dias 3 a 5 de janeiro, às vésperas do colapso na rede hospitalar, quando pacientes infectados pelo novo coronavírus morreram por asfixia após o esgotamento dos estoques de oxigênio. “Não houve uma percepção de que faltaria”, disse Mayra. 

A primeira vez que o Ministério da Saúde soube do ocorrido, segundo Mayra, foi no dia 7 de janeiro. “Pelo que tenho de provas, nós tivemos uma comunicação por parte da secretaria estadual, que transferiu para o ministro um e-mail da White Martins dando conta de que haveria um problema de abastecimento, segundo eles mencionado como um problema na rede”, afirmou a médica aos senadores. 

O e-mail da White Martins, obtido pelo Estadão, informa à Secretaria de Saúde do Amazonas que, com o agravamento da crise, eram necessários “novos esforços adicionais” para superar o problema.

“O imprevisto aumento da demanda ocorrido nos últimos dias agravou consideravelmente a situação de forma abrupta, superando em muito o volume contratado pela Secretaria junto à White Martins, fazendo com que sejam necessários novos esforços adicionais para que a totalidade das necessidades sejam cumpridas”, diz e-mail da multinacional no dia 7 de janeiro. A mensagem foi encaminhada no mesmo dia ao Ministério da Saúde.

A versão contada por Mayra contradiz o que disse Pazuello. Quando depôs à CPI na semana passada, inicialmente o ex-ministro afirmou ter sido comunicado sobre o colapso em Manaus apenas no dia 10, três dias depois do e-mail.

Confrontado com documento apresentado pelo ex-secretário-executivo da Saúde Élcio Franco, que relatou a mensagem da White Martins, o general se corrigiu e disse que só soube “de forma clara” da situação no dia 10. “Eu tomei conhecimento de riscos em Manaus no dia 10 à noite, numa reunião com o governador (Wilson Lima) e o secretário de Saúde (Marcellus Campêlo), quando eles me passaram as suas preocupações (e disseram) que estavam com problema logístico sério com a empresa White Martins”, declarou Pazuello à CPI, na semana passada. 

Questionada sobre a divergência de versões, Mayra reafirmou que o ex-ministro teve conhecimento do desabastecimento do oxigênio em Manaus em 8 de janeiro. Alegou, porém, que a situação era “extraordinária” e, portanto, seria impossível fazer previsão sobre a falta do produto.

“Em Manaus, vivíamos uma situação extraordinária de caos, era impossível fazer previsão de quanto se usaria a mais. O uso passou de 30 mil metros cúbicos para 80 mil metros cúbicos”, relatou a secretária, que disse não ter atuado na força-tarefa de obtenção de oxigênio. “Eu não estava mais em Manaus”.

À tarde, o senador Eduardo Braga (MDB-AM) resgatou a declaração de Mayra de que não havia como antecipar a crise de oxigênio e fez cobranças à secretária e ao governo federal.

“As unidades básicas de saúde estavam funcionando de segunda a sexta-feira e fechando às 5 horas da tarde, enquanto o povo estava se acumulando e, lamentavelmente, desesperado, morrendo na porta dos hospitais, que estavam sem leito e sem estrutura. E hoje pela manhã a senhora disse que não conseguiu prever que ia faltar oxigênio diante desse quadro? Como? Como que uma técnica com o nível de formação que a senhora tem, com toda a secretaria e com toda a assessoria do ministério presente na cidade de Manaus, constata esse quadro e não identifica que nós íamos colapsar por falta de oxigênio? Como?”, protestou Braga.


Fonte: Agência Cenarium e Estadão

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