Com 55 anos de carreira como ator, novela para estrear no mês que vem e projetos artísticos já previstos para o próximo ano, o ator José de Abreu, o Zé de Abreu, avalia, agora, como irá conciliar tudo isso com o desejo de enveredar na política, revelado nesta semana. Ele pretende se candidatar a deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT) do Rio de Janeiro, em 2022.
A intenção, obviamente, trará consequências para sua vida profissional. Ele está na próxima novela da Globo das 21h, chamada Um Lugar ao Sol, que será lançada em novembro. Zé de Abreu disse ao Metrópoles que falaria sobre a ideia de se candidatar com o seu chefe direto na TV, em reunião nesta sexta-feira (15/10).
“Não tenho medo [das consequências]. Pela primeira vez, Globo e eu estamos do mesmo lado. O canal, obviamente, não apoia o governo Bolsonaro. Estamos do mesmo lado, fazendo oposição. Se é que a Globo tem uma posição política… Mas pelo ódio que o Bolsonaro tem dela, a perseguição de bolsonaristas a funcionários da casa, como o caso do cinegrafista agredido em Aparecida (SP), tudo isso demonstra como é essa relação”, diz ele.
O vínculo atual do ator com a empresa é fechado por obra. Desde o ano passado, deixou de ter um contrato fixo com a emissora, onde executa trabalhos há 41 anos. A novela que estreia no mês que vem já está toda gravada e ficará no ar até abril do próximo ano. “Acredito que não terá problema. As convenções de partido serão depois disso”, avalia.
Ideia da candidatura
A intenção de se candidatar começou a fazer parte dos anseios de Zé de Abreu após integrantes do PT carioca o sondarem sobre essa possibilidade. A primeira conversa partiu do dirigente da sigla, Alberto Lopes Cantalice, segundo o ator. “A gente ficou muito amigo na primeira campanha da Dilma e vínhamos conversando sobre isso”, revela.
A legenda, no Rio de Janeiro, tenta se reestruturar. Na última eleição, apenas Benedita da Silva (PT) foi eleita deputada. Acredita-se, nos bastidores, que o nome do ator – apesar das constantes polêmicas em que se envolve, principalmente na internet – seja forte e possa somar votos para ampliar a presença do partido na Câmara, em Brasília.
“O PT não acha a mesma coisa do Lula”
Em junho, durante visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Rio de Janeiro para conversar com integrantes do setor cultural, a candidatura de Zé de Abreu foi exposta ao líder-mor da legenda e provável candidato à Presidência, no próximo ano.
Na ocasião, Lula teria expressado discordância. Disse que seria melhor para o ator se ele continuasse atuando, pois, em Brasília, correria o risco de passar despercebido.
Essa mesma opinião já havia sido dita por Lula a Zé de Abreu, há sete anos, quando foi ventilada pela primeira vez uma possível candidatura do artista. A diferença, desta vez, segundo ele, é que “Lula não quer, mas o partido quer”.
“Eu já estava a fim, justamente, por causa do efeito Bolsonaro. Eu sempre falava não, porque adoro representar, mas, realmente, esse momento histórico que a gente vive exige um certo sacrifício. É uma pulsão que eu tenho pelo país que a gente está vivendo”, diz Zé de Abreu.
Sacrifício
O sacrifício mencionado pelo ator seria o de ceder quatro anos para atuar na vida pública, em Brasília. De certa forma, ele precisaria abrir mão da carreira artística por um tempo para, segundo ele, “ajudar na reconstrução do Brasil”. “Houve um desmonte da máquina pública muito intenso”, afirma.
Ficar longe das novelas e, possivelmente, da telas e dos palcos, será algo novo para o ator, acostumado a integrar projetos sucessivos. Ele sabe que, talvez, deverá ficar fora de produções da Globo, por ser uma TV de concessão federal, mas acredita que poderá fazer peças de teatro e produções em plataformas de streaming, como Netflix, Prime Video e outras.
Liberdade reduzida
Acostumado a falar o que pensa e a gerar embates acalorados na internet, principalmente no Twitter, onde ele diz ser uma “persona”, o Zé de Abreu deputado, caso eleito, deverá se adequar a algumas regras de decoro.
“Vou perder muito da minha liberdade. Como artista, tenho uma liberdade imensa na vida. Como político, vou precisar ter um padrão de comportamento”, acredita.
Já sabendo dessas circunstâncias todas, ele adianta que, se eleito, será apenas por um mandato e que não pretende tornar-se um “político partidário profissional”. “Quero ser ator até o fim da minha vida”, afirma.
Recentemente, o ator compartilhou uma postagem, cujo autor ameaçava a integridade física da deputada federal Tabata Amaral (sem partido/SP). Ele apagou a publicação, mas o texto dizia: “Se eu encontro na rua, soco até ser preso”. Arrependido e, diante da enorme repercussão negativa, ele pediu desculpas, dias depois.
Com informações do Site Metrópoles / Coluna Leo Dias