
Manaus/AM – Pela primeira vez, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mapeou a população fora do ‘padrão heteronormativo’ em território nacional. Apesar de toda a diversidade da sigla LGBTQIA+, o questionário respondido, majoritariamente, por pessoas de 18 a 29 anos, dava como opções específicas apenas duas orientações sexuais, além da hétero: a homossexualidade e a bissexualidade. O resultado apontou que, de todos os Estados brasileiros, Rondônia é o que mais tem pessoas gays ou bissexuais autodeclaradas.
A pesquisa foi feita em 2019, por meio de visitas domiciliares. Mesmo com este ‘avanço’, o próprio instituto reconhece que os dados podem estar defasados, justamente porque ainda existe muito preconceito no Brasil.
“Eu acredito que para o País avançar no combate à LGBTFobia, transfobia e à homofobia, é preciso conhecimento, pois a situação só está da forma como está, por conta da naturalização do preconceito”, avaliou a cineasta e especialista em Gênero e Diversidade na Escola, Allyne da Silva Teixeira, em entrevista à REVISTA CENARIUM.

A pesquisa
Em Rondônia, 91,2% dos cidadãos, ou seja, algo em torno de 9 em cada 10, de quase 2 milhões de habitantes, se consideram heterossexuais, portanto, pelo menos 24 mil rondonienses fazem parte do grupo LGBTQIA+, sendo a maior proporção em relação a outros Estados.
Já no recorte sobre as capitais brasileiras, Porto Velho apresentou 374 mil respostas. Entre elas, 8 mil eram de pessoas gays, lésbicas ou bissexuais. Parte dos entrevistados disse não saber a própria orientação sexual e, ainda, outra parcela, se absteve da pesquisa.
Em todo o País, quase 3 milhões de homens e mulheres responderam ser, assumidamente, gays ou bi.
Barreiras educacionais (e aquisitivas)
Outro indicador interessante está atrelado à renda e ao grau de instrução da população: quanto mais alto o salário e escolaridade, maior a autodeclaração como pessoa LGBTQIA+. “No grupo de pessoas com nível superior, 3,2% se declararam homossexual ou bissexual, percentual significativamente maior do que os sem instrução ou com nível fundamental incompleto (0,5%)”, apontou o estudo.
A coordenadora da pesquisa do IBGE, Maria Lucia Vieira, observa que este indicador “sugere que as pessoas com mais nível de instrução e renda têm menos barreiras para declarar sua orientação sexual ou ainda maior entendimento dos termos usados”. “A proporção que disseram não saber ou recusaram a responder foi maior entre aquelas com menor nível de instrução e rendimento”, acrescentou a coordenadora.

Sendo assim, o número de pessoas que não quis responder foi maior que o total das que se declararam homossexuais e bissexuais: 3,6 milhões.
Para que serve a pesquisa?
Vieira ressalta que o estudo não visa apenas identificar a orientação sexual da população brasileira, mas sim, entender melhor o perfil e comportamento dessas pessoas, cruzando informações fundamentais a qualquer parcela dos cidadãos, a fim de promover igualdade.
“Essa pergunta foi inserida na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), coletada em 2019, com o próprio morador. Isso permite avaliar não apenas o total de pessoas que se identificou como homossexual ou bissexual, mas também realizar estudos relacionando a orientação sexual com as suas características de trabalho, saúde e violência”, ponderou a coordenadora da pesquisa.
“Esses resultados representam um importante primeiro passo para dar visibilidade estatística para esta população em âmbito nacional”, finalizou a especialista.
Caminho a seguir
Por outro lado, o País ainda precisa avançar em respeito e políticas públicas, visto que é um dos primeiros do mundo em LGBTFobia e, há 13 anos, o que mais mata pessoas trans e travesti no planeta, segundo os dados da Transgender Europe, organização que faz monitoramento global sobre dados da população LGBTQIA+.
“Para combatermos isso, precisamos de efetividade nas leis contra a homofobia, além de conhecimento e consciência, nas escolas, por meio do debate. Só assim, por meio da informação, é que vamos promover sensibilidade e consciência”, ressaltou, por fim, a especialista em Gênero e Diversidade, Allyne Teixeira.
Com informações da Agência Cenarium