Entenda música cristã sobre denúncias de exploração infantil no Marajó

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A cantora paraense Aymeê (Reprodução/Redes Sociais/@aymeemusica)

Redação – Na última sexta-feira, 16, a cantora e compositora paraense cristã Aymeê causou comoção nas redes sociais ao viralizar com sua música “Evangelho de Fariseus” na semifinal do reality show gospel “Dom Reality”. A canção aborda as explorações sexuais de crianças na Ilha do Marajó, no Pará, reacendendo a atenção sobre o tema que já havia sido alvo de investigações ano passado.

Logo após sua apresentação, Aymeê foi questionada por um dos jurados sobre a música e suas experiências pessoais. Ela disse que “o Marajó é uma ilha localizada a alguns minutos de Belém, sua cidade natal. Lá, infelizmente, enfrentamos sérios problemas, como tráfico de órgãos e pedofilia em níveis extremos. Apesar de ser uma região turística, as famílias enfrentam grande carência. Crianças com idades entre 5, 6 e 7 anos, ao avistarem um barco de turistas, aproximam-se em canoas e acabam se envolvendo em prostituição dentro dessas embarcações por meros R$ 5”.

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A cantora e compositora Aymeê (Reprodução/Redes Sociais/@aymeemusica)

A antropóloga Marina Ferreira, que viveu 1 ano em Curralinho, no arquipélago do Marajó, diz que a exploração e o desaparecimento de crianças acontece há anos e, infelizmente, nada foi feito. Segundo ela, o poder público simplesmente escolheu ignorar. “Não há desculpas para o descaso. São séculos de mazelas sociais no Marajó. Na cidade de Curralinho, temos um dos menores IDHs do Brasil. Pessoas precisam se deslocar, horas, de barco para conseguir atendimento médico, entre outras coisas. A saúde é precária. No ano que estive lá, soube de uma criança que faleceu por causa de vermes, vermes. Em 2019”, complementa a antropóloga.

Desafios do Marajó

Desde 2013, Melgaço, município situado no coração do arquipélago, enfrenta uma dura realidade. Com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) municipal do Brasil, pontuando 0,418, numa escala de 0 a 1, a cidade reflete uma situação de desenvolvimento humano muito baixo. O Arquipélago de Marajó, no qual Melgaço está inserido, é caracterizado por profundas desigualdades sociais, com 14 dos 17 municípios apresentando IDH baixo ou muito baixo.

Em 2019, o arquipélago já figurava entre as dez unidades de conservação da Amazônia mais ameaçadas, seja por conflitos de terra ou por obras de infraestrutura.

O cientista social João Noronha afirma que se trata de um problema estrutural, econômico e geográfico e que a extensão territorial e a dispersão geográfica da região dificultam a atuação efetiva do Estado. “Para enfrentar as disparidades, é fundamental definir metas claras. O Programa Cidadania Marajó já existe, porém, a implementação enfrenta desafios para atingir, efetivamente, as populações locais. A conscientização não é suficiente; o Estado precisa garantir condições dignas de vida, proporcionando recursos básicos”, complementa Noronha.

Os desafios enfrentados no Marajó não se limitam apenas à falta de recursos e infraestrutura. Tensionado por conflitos políticos e socioambientais, o arquipélago é palco de movimentos de resistência protagonizados por comunidades quilombolas, ribeirinhas e extrativistas.

João Noronha ainda diz que a COP30 acontecerá em Belém, no ano de 2025, e é necessário aproveitar que a Amazônia estará em evidência, para não só denunciar os crimes e impunidades que acontecem na região, mas também para ter o propósito de enfrentá-las.

Contexto Histórico

Não é a primeira vez que a Ilha do Marajó é associada a casos de exploração sexual infantil. Em 2006, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados iniciou um inquérito para apurar tais acusações. Na época, documentos apontavam a participação de políticos locais nas práticas criminosas, aliciando meninas para prostituição, em Belém, e, posteriormente, levando-as para a Guiana Francesa.

Declarações de Damares Alves

Em 8 de outubro de 2022, a então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, trouxe, novamente, o assunto à tona em um culto evangélico. Sem apresentar evidências, ela alegou que crianças na região tinham dentes arrancados para facilitar o sexo oral.

As autoridades do Pará, incluindo o Ministério Público, solicitaram provas às declarações de Damares, mas estas nunca foram apresentadas. Diante disso, o Ministério Público (MP) ajuizou uma ação civil pública contra a então ministra, atendendo ao pedido de 19 procuradores da República.

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Imagem de uma Bíblia Sagrada (Reprodução/Redes Sociais/@aymeemusica)

A ação civil pública, movida pelo Ministério Público, exige que a senadora Damares Alves e a União indenizem a população do Arquipélago de Marajó (PA) em R$ 5 milhões. A acusação se baseia na divulgação de informações falsas sobre a região, sendo alegado que Damares teria utilizado a narrativa para favorecer a reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A polêmica levanta questionamentos sobre a responsabilidade na disseminação de informações sensíveis e destaca a importância de abordar o tema da exploração sexual infantil com seriedade e respaldo factual, a fim de evitar danos irreparáveis à imagem de comunidades e pessoas envolvidas.

Agora, nas plataformas de mídia social, há uma crescente pressão para que políticos e veículos de notícias se posicionem diante desse caso. Uma internauta expressou sua transformação pessoal afirmando: “Eu nunca mais serei a mesma pessoa depois de assistir a tantos vídeos sobre a Ilha do Marajó”.

No momento, a Ilha do Marajó conta com o apoio do Programa Cidadania Marajó, lançado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Esse programa tem como meta combater a exploração e o abuso sexual de crianças e adolescentes na região.

A reportagem pediu nota ao Governo do Estado do Pará, mas até o fechamento desta matéria não obteve posicionamento sobre as ações no Arquipélago do Marajó.

Veja a letra da canção ‘Evangelho dos Fariseus’, de Aymeê
É muito fácil falar de amor

E ter a bíblia na mão

Mas quando o assunto é ajudar

Somem todos de uma vez

Dizem que a igreja é um hospital

Mas só pra quem pode pagar

Os que não têm condições

Que fiquem do lado de lá

Cadê o amor que Jesus ensinou?

Cadê a compaixão?

Cadê a justiça social?

Cadê a igualdade?

Fariseus, fariseus

Tiram o pão da boca do povo

E ainda dizem que estão servindo a Deus

Fariseus, fariseus

Amam mais o dinheiro do que as pessoas.

Reprodução Agência Cenarium

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