Marina diz ter sofrido violência de gênero por Plínio Valério no Senado

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Foto: reprodução.

Redação – A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, considera ter sofrido violência de gênero por parte do senador Plínio Valério (PSDB-AM), que durante audiência pública na Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado, nesta terça-feira, 27, disse que não a respeitava como “ministra” e sim como “mulher”. Marina retirou-se da sessão porque se sentiu desrespeitada pelo senador e condicionou sua permanência na sala a um pedido de desculpas do parlamentar, o que não ocorreu.

Após a saída intempestiva da reunião com os senadores, Marina Silva teve uma audiência como o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), para conversar sobre o projeto de lei que cria a Lei Geral do Licenciamento Ambiental, considerado um retrocesso pelo ministério comandado por ela.

Na saída, ela foi questionada se considerou o tratamento, no Senado, como violência de gênero. “Com certeza, e isso acontece com a gente o tempo todo. Eu agora usei o ‘a gente’ para criar sororidade entre nós. Porque vocês, no governo anterior, muitas jornalistas também foram agredidas fazendo o seu trabalho. Eu me senti agredida fazendo o meu trabalho”, avaliou.

Ministra Marina Silva aponta para o senador Plínio Valéria (Divulgação/Senado Federal)

Não é a primeira vez que Plínio é acusado de violência de gênero contra Marina. Ele foi denunciado por oito deputadas federais e um deputado, ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, por causa das falas de quando ele afirmou que desejava enforcar a ministra.

As falas de enforcamento contra Marina foram proferidas por Plínio durante evento da Federação do Comércio do Amazonas (Fecomércio-AM), em março deste ano, em Manaus. Ao receber a Medalha do Mérito Comercial do Amazonas 2025, fez declarações contra a ministra por causa da BR-319 e, no meio de sua fala, disse: “Imagina o que é tolerar a Marina por seis horas sem enforcá-la”.

Na Representação 01/2025, protocolada dia 20 de março deste ano no Senado, as parlamentares sustentam que o senador amazonense “transcendeu a sua imunidade parlamentar e malferiu os direitos de participação política da mulher, depreciando a condição de mulher (da Ministra) e incitando a violência de gênero e, portanto, estimulando a discriminação em razão do sexo feminino”.

Marina também foi perguntada, nesta terça-feira, se pretende tomar alguma medida jurídica contra o senador do Amazonas. “A manifestação que o senador tinha dito, que foi muito difícil para ele não me enforcar, eu já estava analisando com os meus advogados. Agora, ele agravou a situação quando, propositadamente, me convidam como senadora e dizem depois que não me respeitam como ministra. Eu graças a Deus respeito todas as pessoas, sempre procuro fazer o diálogo respeitando as pessoas. Agora, o que nunca vão ter de mim é submissão”, disse.

Marina Silva deixa audiência no Senado Federal após sofrer misoginia (Divulgação/Senado Federal)

Assinaram a petição ao Senado, as deputadas federais Enfermeira Ana Paula (PDT-CE), Benedita da Silva (PT-RJ), Duda Salabert (PDT-MG), Gisela Simona (União-MT), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Laura Carneiro (PSD-RJ), Maria Arraes (Solidariedade-PE), Tabata Amaral (PSB-SP), Talíria Petrone (PSOL-RJ) e o deputado federal Túlio Gadêlha (REDE-PE).

Os parlamentares baseiam o pedido na Lei 14.192/2021, que estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher, e a Resolução Nº 20/1993, que instituiu o Código de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal. Eles também utilizam postagem da CENARIUM nas redes sociais, que publicou em primeira mão o vídeo com as falas do senador, como prova da repercussão que o caso tomou no Brasil.

A violência de gênero consiste nas formas de violências perpetradas contra alguém com base no seu gênero ou orientação sexual. Pode ser física, psicológica, sexual, ou simbólica, com as mulheres sendo historicamente as mais afetadas devido a desigualdades de poder.

A representação está parada no Conselho de Ética do Senado há dois meses e aguarda a designação da nova composição do colegiado, cujo mandato expirou no final de março. Cabe ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) fazer a convocação dos novos membros, o que até hoje não ocorreu.

Marina abandona audiência

A ministra Marina Silva foi convidada, a pedido do senador Lucas Barreto (PSD-AP), para prestar informações sobre estudos e reuniões realizadas para criação de Unidades de Conservação marinha na Costa do Estado do Amapá, na chamada Margem Equatorial, mas acabou sendo questionada sobre outras questões como pavimentação da BR-319, exploração do potássio em Autazes (AM) e a “Ferrogrão”, no Mato Grosso, por exemplo.

Depois de responder às perguntas de outros senadores, Plínio tomou a palavra para fazer perguntas a Marina. “Ministra Marina que bom reencontrá-la e, ao olhar para a senhora, estou vendo a ministra, não estou falando com a mulher”, disse o tucano, que foi imediatamente retrucado por Marina. “O senhor está falando com as duas coisas”, rebateu.

Plínio novamente responde: “Não, não. Porque a mulher merece respeito, a ministra não. Por isso que eu quero separar”. Foi então que a ministra o questionou. “Por que o senhor não me respeita como ministra? O senhor que disse que queria me enforcar”, rebateu.

Nesse momento, começou o bate-boca, com a intervenção do presidente da CI, senador Marcos Rogério (PL-RO), que foi indagado por Marina como reagiria se ela dissesse a ele que não o respeitava. Ele pediu que os colegas tentassem manter um ambiente de urbanidade até a conclusão dos trabalhos, sem desrespeito.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) também interveio e pediu respeito à ministra e sugeriu a retirada da convidada, caso seguisse o desrespeito contra ela. “O debate político pode ser caloroso, pode se expressar as divergências, pontos de vistas. Agora, manifestação de desrespeito, é inaceitável! Quando alguém começa o debate dizendo que eu respeito a mulher, mas não respeito a ministra, isso não cabe num debate institucional, como está acontecendo aqui”, disse Carvalho.

Marina reiterou que não estava desrespeitando ninguém e lembrou que Plínio já declarou vontade de enforcá-la, em outra audiência da qual participou. “Eu não estou provocando, ele que disse que não me respeita”, afirmou.

Depois de tentativas de retomar o debate, a ministra disse que só não se retiraria da sala, caso Plínio a pedisse desculpas, porque ela estava ali por ser ministra de Estado e não na condição de mulher. “Ou ele pede desculpa ou eu vou me retirar. Porque eu fui convidada como ministra e como ministra ele não me respeita. O senhor me peça desculpa e eu permaneço. Se não pedir desculpa, eu vou me retirar”, declarou.

O parlamentar do Amazonas se negou a pedir desculpas e se justificou dizendo que a separação ocorreria porque ele não tem nada contra a mulher, pois diverge da ministra. “A senhora está gritando, quando diz que eu sou o psicopata, a senhora está acreditando na sua afirmação? (…) Tá com medo de mim ministra?”, afirmou Plínio, enquanto Marina se retirou da sala.

Sobre a BR-319, Marina disse que esteve 15 anos fora do governo federal e questionou por que não asfaltaram a rodovia. Para ela, é mais fácil apontá-la como “bode expiatório” do que reconhecer a incompetência por até hoje não conseguirem liberar as obras, que exigem uma política de governança, capaz de evitar o desmatamento ambiental no entorno da rodovia.

Ministra justifica sua atitude

Após sair da audiência, Marina lembrou que foi senadora por 16 anos e atualmente é deputada federal pelo estado de São Paulo, licenciada para assumir o cargo de ministra.

Sou ex-senadora, sou ministra de Meio Ambiente. Foi nessa condição que eu fui convidada. Ouvir um senador dizer que não me respeita como ministra, eu não poderia ter outra atitude. Mas eu dei a chance de ele pedir desculpas. Como ele é uma pessoa que já disse, da outra vez em que vim aqui também como convidada, foi muito difícil para ele ficar seis horas e dez minutos comigo sem me enforcar, hoje ele veio aqui, de novo, para me agredir. Além de pessoas que atribuem a mim responsabilidades que são deles”, declarou Marina.

A ministra fazia referências ao outro senador do Amazonas, Omar Aziz (PSD), que travou um embate com ela um pouco antes de Plínio Valério. Na ocasião, ele disse que Marina era a responsável pela aprovação do projeto que cria a nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental, que passou pelo Senado, na semana passada, e agora aguarda a análise da Câmara dos Deputados.

Porque dizer que o atraso, a demolição da legislação ambiental, que foi praticada aqui no Senado, com o relatório que foi aprovado, é responsabilidade minha, é não querer honrar o voto de quem os elegeu. Porque, quem tem o mandato de senador, de deputado, vota pelas convicções que tem, não porque alguém o obrigou a fazer alguma coisa”, refutou Marina.

Marina foi enfática sobre o tratamento recebido e como se posicionar em relação a isso. “O que não pode é alguém achar que porque você é mulher, porque você é preta, porque você vem de uma trajetória de vida humilde, que você vai dizer quem eu sou e ainda dizer que eu devo ficar no meu lugar. O meu lugar é onde todas as mulheres devem estar“, disse, após ser alvo de bate-boca com parlamentares.

Com informações da Agência Cenarium

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