
Redação – Moradores que vivem na Amazônia têm respirado, em parte do ano, um ar mais tóxico do que o de algumas das maiores metrópoles do planeta. O alerta consta no relatório “Céus Tóxicos”, divulgado nessa quarta-feira, 5, pela Organização Greenpeace Internacional.
De acordo com o documento, as queimadas ligadas ao avanço do agronegócio como principal causa da contaminação atmosférica. Segundo o estudo, a fumaça provocada para abrir áreas de pasto e renovar pastagens tem elevado os níveis de poluição a patamares até 20 vezes superiores aos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A pesquisa, revisada por pares e realizada entre 2024 e 2025, mediu os níveis de material particulado fino (PM2.5) – substância associada a doenças respiratórias e cardiovasculares – em cidades amazônicas como Porto Velho (RO) e Lábrea (AM), localizada a 702 quilômetros de Manaus. Mesmo com menos focos de incêndio em 2025, os níveis continuaram seis vezes acima do padrão considerado saudável.
Segundo o relatório, os focos de incêndio se concentram em áreas agropecuárias, usadas para criação de gado e plantio de ração animal. O documento aponta que, entre 2019 e 2024, mais de 30 milhões de hectares – uma área equivalente à Itália – queimaram num raio de 360 quilômetros das instalações da JBS, maior empresa de carne do mundo.

A JBS, questionada pelo Greenpeace, rejeitou a metodologia e afirmou que o raio usado “não reflete a realidade das compras de gado”, destacando que suas unidades têm políticas de monitoramento da cadeia produtiva. No entanto, o relatório ressalta que falhas nesses sistemas já foram apontadas em investigações de veículos de imprensa no Brasil.
Os impactos da fumaça também se refletem nos hospitais da região. Em Porto Velho, o período das queimadas vem acompanhado de aumento nas internações por problemas respiratórios, especialmente entre crianças e idosos. O Greenpeace estima que a poluição causada pelo fogo contribuiu para dezenas de milhares de mortes prematuras na Amazônia brasileira entre 2009 e 2019. Cumprir as diretrizes da OMS, diz o estudo, poderia aumentar a expectativa de vida em até 2,9 anos em Estados como Rondônia e Amazonas.
“A Amazônia tem um papel vital na preservação da vida no planeta, mas tem sufocado com a fumaça de queimadas advindas de processos de desmatamento e renovação de pastagens”, afirmou Cristiane Mazzetti, coordenadora da Frente de Desmatamento Zero do Greenpeace Brasil. “Esses incêndios não são naturais: cada fogo ateado ameaça todos os que vivem na região, das cidades às comunidades locais”, alerta.
O relatório também chama atenção para a responsabilidade das cadeias produtivas e dos governos. “Na COP30, muitas empresas do agronegócio vão afirmar que o setor promove soluções climáticas. Mas, para isso ser verdade, é preciso enfrentar de forma definitiva os impactos que ainda fazem parte dessa cadeia – como o desmatamento e o uso ilegal do fogo”, completou Mazzetti.
O Greenpeace propõe que, durante a COP30, o Brasil lidere um plano de ação global para deter e reverter o desmatamento até 2030, com um programa de cinco anos sob a Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). A meta é transformar compromissos em ações concretas e garantir ar limpo e florestas vivas para as próximas gerações.
Fonte: AGÊNCIA CENARIUM
