Ato na UFPA pede ação de Lula diante de ameaças aos povos indígenas do Baixo Tapajós

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Fotos: Bianca Diniz/CENARIUM | Composição: Paulo Dutra/CENARIUM

Redação – BELÉM (PA) – Lideranças indígenas do Baixo Tapajós, no Estado do Pará, cobraram do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ações concretas diante dos problemas que ameaçam os povos originários que habitam a região. O pedido ocorreu durante coletiva de imprensa, realizada na tarde desta quarta-feira, 12, na Universidade Federal do Pará (UFPA), um dia após o ato que culminou na entrada a uma área de acesso restrito da Zona Azul, na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), na noite de terça-feira, 11, em Belém.

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Em lágrimas, a liderança indígena Auricélia Arapiun e outros três líderes defenderam o ato nas instalações da conferência como uma forma de levar uma mensagem aos negociadores e autoridades, para que os povos indígenas sejam ouvidos, sobretudo em um evento realizado na Amazônia, que, segundo ela, exclui os povos originários das negociações. Auricélia fez um apelo a Lula para que escute os anseios de seu povo, relatando que já foram feitas diversas tentativas de serem recebidos pelo presidente.

“Presidente Lula, nós fizemos campanha, arriscamos nossas vidas para lhe eleger presidente. Santarém e o Pará, principalmente a região de Santarém, são regiões fascistas, onde o bolsonarismo impera. O senhor não sabe o que fizemos para lhe defender e para lhe eleger. Está na hora da resposta, presidente Lula! Nós precisamos dessa resposta, presidente. Queremos mostrar para o mundo por que elegemos o senhor: o senhor tem a oportunidade de demarcar nossos territórios e de revogar o Decreto 12.600, que o senhor assinou para matar o Tapajós, para matar o Madeira”, declarou, em lágrimas, a líder Arapiun.

Foto: Reprodução/Thiago Arapiun e Kauan Arapiun via @coletivoindigenakirimbawa

Além de Auricélia, participaram da entrevista o cacique-geral do povo Tupinambá e coordenador do Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (Cita), Gilson Tupinambá; a cacica Maria Neves Arara Vermelha; e a líder do Cita, Margareth Maytapu. O Baixo Tapajós, conforme o cacique, reúne 14 povos distribuídos em 18 territórios, localizados nos municípios de Santarém, Belterra e Aveiro, com uma população de cerca de 20 mil indígenas.

Tupinambá foi enfático ao comentar o ato realizado na noite de terça-feira, na área da Zona Azul da COP30, e afirmou que não havia intenção de causar qualquer tipo de violência, destacando que a confusão foi provocada por pessoas que não faziam parte da “Marcha pelo Clima”, como foi chamado o protesto.

“Não foi uma confusão, foi um ato político, legítimo e ordeiro que nós fizemos. Teve pessoas que chegaram lá e conturbaram o nosso ato, mas a nossa reivindicação é porque nós temos demandas, temos pautas que não estão colocadas na COP, e nós precisamos ser realmente ouvidos pelo Estado brasileiro, porque nós temos a nossa instituição. Nossa preocupação é com a demarcação territorial, que é o nosso principal ponto de pauta”, declarou o cacique.

Uma das principais reivindicações do movimento é a revogação do Decreto 12.600, de agosto deste ano, assinado pelo presidente Lula, que incluiu no Programa Nacional de Desestatização (PND) as hidrovias dos rios Tapajós, Madeira e Tocantins, permitindo que entrem em leilões de concessão para gestão pela iniciativa privada.

“O nosso rio Tapajós está sendo invadido hoje. Essa lei 12.600 que o presidente Lula decretou é muito ruim, porque privatizou o rio. Hoje ele privatizou o rio; amanhã pode privatizar o nosso território, nossas vidas e tudo o que tem lá. Assim não vivemos mais”, afirmou Tupinambá.

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Além disso, as lideranças cobram de Lula a demarcação de quatro territórios indígenas no Baixo Tapajós, que estão prontos para serem assinados, mas ainda não tiveram sinalização do governo. “Nós temos quatro territórios em fase declaratória, só esperando que ele assine. Esse impasse nos traz angústia, porque estamos dentro do território e fazemos o equilíbrio da terra — somos o termômetro. Quem está no ar-condicionado não sente a mudança do clima, mas quem está lá sente, porque ela altera nosso modo de vida e seca nossos poços”, explicou o líder indígena.

Assim como Auricélia, Tupinambá cobra ser ouvido por Lula, que recebeu o apoio dos indígenas do Pará durante as eleições de 2022, quando concorreu ao terceiro mandato. “Nós apostamos muito no presidente Lula. Fomos para o embate com os bolsonaristas, que ninguém concordava. Nós o apoiamos e merecemos respeito, porque ele nos deve respeito. Ele foi ao Tapajós e não foi falar conosco, para debater o que é melhor para nós. Então, ele perdeu o respeito por nós. Agora queremos sentar com ele, olho no olho, para dizer o que é melhor para o nosso povo”, reiterou.

Foto: Reprodução/Thiago Arapiun e Kauan Arapiun via @coletivoindigenakirimbawa

Indígena liderou ocupação na Seduc
Auricélia Arapiun foi uma das principais lideranças do Tapajós durante a ocupação de 23 dias da Secretaria de Educação do Pará (Seduc-PA), em janeiro de 2025, que levou o governador Helder Barbalho (MDB) a revogar a Lei 10.820/2024. A norma era rejeitada pelos indígenas, que acusavam o governo de ameaçar o sistema de ensino presencial e a existência de programas voltados a comunidades tradicionais de indígenas, ribeirinhos e quilombolas.

A líder Arapiun criticou a forma como a COP30 está sendo realizada na Amazônia, especialmente no Pará, sem garantir a participação efetiva dos povos indígenas, que seguem pressionados por interesses políticos e econômicos, públicos e privados, responsáveis pela continuidade das invasões de seus territórios e das diversas formas de violência contra seus parentes.

“Estamos todos adoecidos porque, há 30 anos, eles estão nas COPs discutindo sem pensar em nós, pensando apenas no lucro que o capitalismo produz o tempo todo. Estamos aqui nesta COP porque esta casa é nossa, o Pará é terra indígena. Não fomos convidados para estar lá, e não precisamos ser convidados, porque estamos em nossa casa. Quem tem que pedir licença para entrar aqui são eles!”, declarou a líder.

Foto: João Paulo Guimarães/CENARIUM

Arapiun também pediu que o movimento indígena não seja criminalizado nem responsabilizado por qualquer incidente ocorrido durante a COP30, a partir do episódio na porta da Zona Azul.

“Estamos cansados de vir para cá e ser criminalizados porque eles não têm coragem de ir ao nosso território e falar conosco. O Helder não recebe os povos indígenas do Baixo Tapajós. Ele montou um aparato de segurança para receber 40 lideranças indígenas aqui. Nós não esqueceremos, Helder, o que você fez conosco. Ninguém vai nos intimidar. Podem nos criminalizar, como sempre fizeram”, apelou Arapiun, ainda muito emocionada.

‘Nós existimos’
A liderança do Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (Cita) Margareth Maytapu destacou três pontos essenciais para o povo: a demarcação dos territórios, a revogação da privatização dos rios e o combate ao racismo contra os povos indígenas.

“O ato [na Zona Azul] foi para dizer: nós existimos, estamos aqui e precisamos afirmar quem somos. Não vale a pena vir a um evento desses e não ter o mínimo de oportunidade de sermos ouvidos. São pessoas decidindo sobre nossas vidas, discutindo o que é para nós — sem nós! Como alguém pode falar sobre você se não o conhece? Como podem falar sobre nós se não sabem da nossa realidade?”, questionou a líder.

Maytapu reiterou o apoio ao ato e criticou o fato de pessoas estarem no Brasil discutindo a agenda climática sem compreender quem realmente defende o clima e sente, na pele, os efeitos das mudanças.
“Para nós, ocupar espaço é também dizer que jamais vamos nos calar diante de tantos retrocessos que têm ocorrido contra os povos indígenas, populações tradicionais, ribeirinhos, quilombolas e todas as pessoas que cuidam da floresta amazônica”, concluiu.

Fonte: AGÊNCIA CENARIUM

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