Pesquisa revela que 94% das mulheres veem o Brasil como machista

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Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Redação – Dados da 11ª Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher indicam que o Brasil é percebido por mulheres como um País marcado pelo machismo e pela violência de gênero, especialmente em espaços públicos. O levantamento foi realizado pelo DataSenado e pela Nexus, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), divulgado em 9 de dezembro, e ouviu 21.641 mulheres com 16 anos ou mais em todas as regiões do País.

Os resultados mostram que 94% das entrevistadas consideram o Brasil um País machista, e quase metade afirma que as mulheres não são tratadas com o devido respeito. Essa percepção é mais intensa nos espaços públicos, dentro de casa e no ambiente de trabalho, onde as mulheres relatam maior vivência de atitudes desrespeitosas.

A pesquisa integra o Mapa Nacional da Violência de Gênero, plataforma que reúne dados oficiais de órgãos como o Ministério da Justiça, Sistema Único de Saúde (SUS) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados indicam que, embora a percepção de desrespeito tenha se mantido estável em relação a 2023, ela permanece em um patamar elevado e estrutural, atravessando diferentes dimensões da vida cotidiana das mulheres.

O coordenador do Instituto de Pesquisa DataSenado destacou a relevância do levantamento para a formulação de políticas públicas. “Esse acompanhamento e atualização bienal dos dados permite que a gente mensure como está e o que tem mudado no País em relação à violência contra mulheres e a percepção sobre o tema. Ou seja, é essencial para apoiar senadores e governo na hora de criar e mensurar o sucesso de leis e políticas públicas de proteção às mulheres”, disse Marcos Ruben de Oliveira.

Risco das ruas
Desde 2011, as vias públicas aparecem como o local onde as mulheres se sentem menos respeitadas. Em 2025, 49% das entrevistadas afirmaram que é na rua que o desrespeito se manifesta com mais força, mesmo após uma queda de três pontos percentuais em relação à edição anterior. O ambiente de trabalho permanece como o segundo espaço mais citado, enquanto a casa aparece logo em seguida, com 21% das mulheres apontando o próprio lar como local de desrespeito.

A pesquisa mostra, ainda, que a percepção de insegurança dentro das residências aumentou nos últimos anos, com um crescimento de quatro pontos percentuais desde 2023, o que representa cerca de 3,3 milhões de mulheres a mais passando a enxergar o ambiente familiar como inseguro. Para especialistas, esse dado dialoga com os elevados índices de violência doméstica no País.

A antropóloga e líder de Políticas Públicas pelo Fim da Violência Contra Meninas e Mulheres do Instituto Natura, Beatriz Accioly, relacionou esse aumento a um processo de maior conscientização. “Esse aumento da declaração sobre desrespeito na família pode estar relacionado a uma maior conscientização das mulheres em relação à violência doméstica e familiar. Embora seja preocupante a percepção de que as mulheres não são respeitadas no círculo social mais íntimo, isso vai ao encontro dos números altos de violência doméstica no país”, comentou.

Foto: Reprodução/Alesp

Ela também destacou que o perigo não se restringe aos espaços públicos. “Infelizmente, não é só a rua que apresenta perigo e desrespeito, conforme demonstram nossos altos índices de feminicídio”, afirmou.

Machismo estrutural
A percepção de que o Brasil é um País machista permanece praticamente unânime entre as mulheres. Em 2025, 94% afirmaram viver em uma sociedade machista, percentual que não ficou abaixo de 90% desde 2017. O que mudou foi a intensidade dessa avaliação: 70% das entrevistadas passaram a classificar o País como “muito machista”, um aumento de oito pontos percentuais em dois anos, o que representa 8 milhões de mulheres a mais com visão mais crítica sobre a desigualdade de gênero.

Esse cenário caminha junto com a percepção de crescimento da violência doméstica. Sete em cada dez mulheres acreditam que esse tipo de violência aumentou nos últimos 12 meses, retomando o maior patamar da série histórica iniciada em 2005. Apesar disso, apenas uma pequena parcela acredita que as vítimas costumam denunciar as agressões.

A coordenadora do Observatório da Mulher contra a Violência no Senado Federal, Maria Teresa Prado, destacou que os dados evidenciam o caráter estrutural do problema. “Os dados ajudam a dimensionar como a violência contra a mulher deixa de ser um assunto restrito à esfera doméstica e passa a ser estrutural, com efeitos sociais e econômicos de longo prazo”, apontou.

Foto: Reprodução/Senado Federal

As diferenças regionais também aparecem no levantamento. No Sul, mais da metade das mulheres afirma que o respeito ocorre apenas “às vezes”. No Nordeste, metade das entrevistadas diz que as mulheres não são respeitadas, seguido por Sudeste, Centro-Oeste e Norte. Em todas as regiões, o sentimento de instabilidade sobre o tratamento dado às mulheres é recorrente.

Quando analisado o nível de escolaridade, o estudo revela desigualdades ainda mais profundas. Entre mulheres não alfabetizadas, 62% afirmam que as mulheres não são tratadas com respeito, índice significativamente superior ao observado entre aquelas com ensino superior completo. Mesmo entre mulheres com diploma universitário, apenas uma minoria considera que há pleno respeito.

A diretora executiva da Associação Gênero e Número ressaltou a relação entre educação e vulnerabilidade social. “O cruzamento entre escolaridade e percepção de respeito também mostra como as desigualdades educacionais se convertem em vulnerabilidade social. Mulheres com menor acesso à educação formal não apenas percebem mais situações de desrespeito, como também enfrentam maior dificuldade para denunciar ou acessar serviços de proteção”, analisou Vitória Régia da Silva.

Fonte: AGÊNCIA CENARIUM

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