A dona de casa Ila Arantes Fernandes, de 35 anos, e o bebê que ela esperava, do sexo feminino, morreram durante a realização do parto na Maternidade Estadual Balbina Mestrinho, na Zona Sul de Manaus.
Após o ocorrido, familiares denunciaram à Polícia Civil que houve negligência médica. Segundo eles, a paciente passou quase 36 horas sem receber a atenção necessária dos profissionais que atuam na unidade de saúde. O caso foi registrado no 1º Distrito Integrado de Polícia (DIP).
O cunhado de Ila, o taxista de Valdomiro Viana, de 45 anos, informou que a mulher estava gravida de 8 meses. Ela procurou a maternidade na noite da última quinta-feira (14), após sofrer sangramentos e sentir intensas dores. O cunhado explicou que mesmo a gestante apresentando um estado crítico, o parto foi realizado somente na tarde de sábado (16).
“Houve negligência e omissão de socorro médico. Eles fizeram ela esperar para que tivesse um parto normal. Ela deu entrada às 23h30 de quinta-feira, no primeiro momento não tinha leito, e ela foi medicada somente às 16h de sexta-feira, na recepção da maternidade”, disse Valdomiro.
Conforme o taxista, a mulher só foi levada para o leito da maternidade às 17h de sexta e mesmo após ser medicada continuava sentindo dores frequentes.
“Ela se queixava das dores para a sogra, que era acompanhante dela, mas ninguém da maternidade dava atenção e só diziam que era normal. Fizeram um ultrassom e o bebê aparentava estar saudável. Somente às 15h30 do sábado que a levaram para a sala de parto, mas durante o procedimento as duas não sobreviveram”, disse o cunhado.
Agressão
Valdomiro ainda denunciou a agressão que o irmão, marido da paciente, sofreu dos vigilantes da maternidade, após receber a notícia da morte da esposa e da filha.
“Os médicos saíram da sala de parto com a Ila na maca, para fazer a reanimação, o meu irmão viu que ela estava desmaiada. Em seguida o médico veio com a notícia da morte das duas. Ele ficou desnorteado, pois é inadmissível uma pessoa saudável entrar na maternidade para ter um filho e sair de lá morta”, conta o familiar.
Um vídeo registrado por outros pacientes mostra o momento da confusão na unidade de saúde.
Após o ocorrido, a família foi orientada por outros enfermeiros da maternidade a registrar um Boletim de Ocorrência. O bebê, que se chamaria Beatriz, era o quarto filho de Ila.
“A maternidade queria que mãe e filha fossem imediatamente enterradas, mas o delegado solicitou que fosse feito exames de necropsia no corpo das duas. Então elas foram removidas para o Instituto Médico Legal (IML) “, disse Valdomiro.
Por volta das 18h deste domingo (17), os corpos foram liberados pelo IML e foram levados para o bairro Parque São Pedro, na Zona Oeste de Manaus, onde acontecerá o velório. O sepultamento de mãe e filha deve ocorrer no município de Fonte Boa ( a 678 km da capital), cidade natal da mulher.
Veja o momento que o marido recebe a notícia da morte da esposa e da filha:
Susam
Em nota, A Secretaria de Estado de Saúde (Susam) lamentou o ocorrido e afirmou que abrirá uma sindicância para apurar as circunstâncias do atendimento e as responsabilidades, caso seja constata falhas nos procedimentos.
O órgão ainda informou que a paciente entrou na maternidade Balbina Mestrinho por volta de 0:12 de sexta-feira (15), queixando-se de dor no baixo ventre e febre de seis dias.
A Susam alega que a mulher foi imediatamente internada para acompanhamento clínico na enfermaria de alto risco.
“Em nenhum momento houve falta de leito ou de assistência à gestante. Uma vez que o exame apontou gravidez de 34 semanas e frequência de 127 batimentos cardíacos fetais, sem sinais de gravidade presentes, preservou-se o bebê, aguardando a maturidade fetal. O tratamento inicial à paciente seguiu protocolo, focando na infecção do trato urinário e no monitoramento por ameaça de parto prematuro”, diz a nota.
No dia seguinte, conforme a secretaria, o quadro da paciente evoluiu com descolamento prematuro de placenta e, durante a cesariana, por volta das 15h, foi constatada a morte do bebê. A mãe teve forte hemorragia, tendo sido submetida a transfusão de sangue. “Em seguida, a paciente foi encaminha à UTI, mas não resistiu, indo a óbito após três paradas cardíacas”, informa outro trecho.
Desespero
A Susam ainda se posicionou sobre a confusão registrada na recepção da maternidade.
“No momento em que recebeu a notícia das perdas da mãe e do bebê, o pai da criança ficou transtornado e tentou quebrar a máquina de lanche e outros objetos da recepção da maternidade. Os seguranças foram chamados para conter o pai. O serviço social prestou assistência à família, incluindo locomoção para a resolutividade dos trâmites póstumos”, finaliza.
Foto/Texto com informações Em Tempo.