Em Manaus, prefeito suspendeu plano de saúde de 40 mil servidores e pode ter contribuído para ‘onda’ de mortes por Covid

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MANAUS – O prefeito da capital do Amazonas, David Almeida (Avante), suspendeu, em janeiro deste ano, o plano de saúde de mais de 40 mil servidores da Prefeitura de Manaus para os atendimentos de urgência e emergência no único hospital que atendia os pacientes para os dois tipos de procedimentos. A informação foi confirmada na Prefeitura de Manaus e no Hospital Check UP.

A medida pode ter contribuído para agravar os casos de servidores e dependentes deles infectados pelo novo coronavírus no período de janeiro a fevereiro deste ano, que não conseguiram atendimento em hospitais públicos. Na época, os cemitérios registravam mais de 200 mortes por dia, tendo como causa a Covid-19.

Em Manaus, a média diária de infectados por Covid-19 se mantém em alta, cerca de 300 pessoas, segundo dados da Fundação de Vigilância Sanitária (FVS/AM). A capital possui cerca de 2 milhões de habitantes e foi a primeira cidade a passar pela “segunda onda” do novo vírus no País.

O número de servidores municipais de Manaus, que está sem plano de saúde para os casos hospitalares, representa a quantidade de funcionários que aderiram ao credenciamento da Manausmed, pasta que cuida do atendimento médico dos trabalhadores da prefeitura. Segundo os servidores, apesar da suspensão do atendimento, o desconto do plano é feito “rigorosamente” nos contracheques.

Apesar de pública, a informação sobre a falta de atendimento de urgência e emergência para os servidores da Prefeitura de Manaus tem sido evitada pela diretoria do Hospital Check UP, o único pronto-socorro que atendia até o ano passado os servidores da Prefeitura de Manaus.

Procurado por uma semana pela reportagem da REVISTA CENARIUM, o Check UP informou que não vai comentar o assunto formalmente. No hospital, os funcionários falam em atraso nos repasses do convênio que deveriam ser feitos pela Prefeitura de Manaus mediante a autorização do prefeito David Almeida.

No site da Manausmed ainda consta a informação de que o Hospital Check UP atende os servidores de urgência e emergência. Na porta do hospital, nenhum servidor é recebido, conforme constatado pela reportagem da CENARIUM, que foi impedida de fazer imagens. Com medo de retaliação, os servidores, também, não permitiram fotos.

Pandemia agravada

A ausência do plano de saúde para os servidores da Prefeitura de Manaus fez piorar o atendimento nos hospitais públicos, que registraram filas para as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) com mais de 400 pessoas em espera nos primeiros dois meses do ano, levando a Secretaria de Estado de Saúde (SES) a transferir pacientes para outros Estados.

Em Manaus, atualmente, existem 500 pacientes internados com Covid, sendo 237 em leitos clínicos (30 na rede privada e 207 na rede pública), 254 em UTI (66 na rede privada e 188 na rede pública) e nove em sala vermelha.

Há, ainda, outros57 pacientes internados considerados suspeitos e que aguardam a confirmação do diagnóstico. Desses, 44 estão em leitos clínicos (23 na rede privada e 21 na rede pública), 11 estão em UTI (1 na rede privada e 10 na rede pública) e dois em sala vermelha.

No boletim da FVS-AM, mostra, também, que há outros 160 pacientes internados com Covid-19 no interior do Estado, conforme informado pela Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM). São 18 em Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) e 142 em leitos clínicos.

‘Pagava ou morria’

Mulher de um servidor aposentado da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf) – que preferiu não se identificar – precisou desembolsar R$ 50 mil para um hospital particular após receber a negativa do hospital credenciado pela Prefeitura de Manaus para se internar no estágio grave da Covid-19.

“Minha família precisou fazer cota e conseguimos o dinheiro para pagar o hospital. Ou pagava, ou morria, porque eu estava com a nova cepa do novo coronavírus (P1). Apesar disso, meu marido tinha, mensalmente, o valor do convênio debitado no contracheque dele. Pretendo entrar com uma ação contra o município de Manaus para reaver o valor gasto”, declarou a dona de casa.

Questionada, a Secretaria Municipal de Administração (Semad) – que administra a Manausmed – informou que o processo de contratação de hospitais que ofereçam atendimentos de urgência e emergência adulto e infantil está em fase de finalização e prometeu o retorno do serviço em 30 dias.

Espera por cirurgias

Além dos atendimentos nos prontos-socorros, as cirurgias eletivas, também, estão paralisadas para os servidores da Manausmed. Um funcionário que, para não sofrer represálias, preferiu não se identificar, relatou que está em busca de uma cirurgia e não conseguiu realizar o procedimento.

“Em janeiro, no auge da segunda onda, busquei atendimento e não consegui nenhum por conta da Manausmed não ter credenciado em nenhuma rede. Trabalhamos e só queremos o nosso direito garantido, já que todos os meses é descontado no contracheque. Já tive que adiar duas vezes a cirurgia, porque a prefeitura não cobre o serviço que preciso fazer”, detalhou o servidor indignado.

A CENARIUM teve acesso ao contracheque de março do servidor no qual mostra o desconto da Manausmed. Atendimento está suspenso (Reprodução)

Alvo da CPI

O prefeito de Manaus, David Almeida, é o único prefeito do Brasil que entrou no alvo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, oficializada no dia 19 de abril no Congresso. O plano de trabalho da comissão prevê chamar ao menos seis ministros ou ex-ministros do governo Jair Bolsonaropara dar explicações sobre o enfrentamento da pandemia no País.

Uma versão preliminar do roteiro, elaborado por integrantes do colegiado, também cita a necessidade de ouvir secretários do Ministério da Saúde, autoridades responsáveis pela área de comunicação e governadores. Além do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, a lista inicial das autoridades que devem ser ouvidas inclui o ex-número 2 da pasta, coronel Élcio Franco.

O ex-comandante do Exército Edson Pujol, também, será chamado para explicar a produção de cloroquina pelo laboratório ligado às Forças Armadas. O medicamento, sem eficácia comprovada contra a Covid-19, passou a ser produzido em maior escala. 


Fonte: Revista Cenarium

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