A Associação dos Motoristas de Aplicativos de São Paulo (Amasp) acusa a Uber de excluir, em todo o país, mais de 15 mil motoristas de aplicativo da plataforma por excesso de cancelamentos. Seria o equivalente a 1% de toda a base de motoristas do país, segundo a associação. A empresa nega a quantia e fala em 1,6 mil.
Como mostrou o G1 em julho, os condutores passaram a selecionar corridas em virtude do aumento no preço dos combustíveis. Do gasto diário de um motorista, a gasolina representa entre 40% e 50% e segundo o resultado dos IPCA-15, divulgado nesta sexta-feira (24), o combustível acumula alta de 39,05% nos últimos 12 meses.
A Amasp diz que, entre efeitos da pandemia e, agora, da alta de combustíveis, cerca de 25% da frota paulistana de motoristas desistiu de trabalhar no segmento — nacionalmente, não há um levantamento. A oferta menor de motoristas aumentou o tempo de espera para passageiros.
“Foi uma exclusão sumária, o que deixou os motoristas em situação complicada. Nos termos de uso da plataforma, não há proibição à prática do cancelamento”, diz Eduardo Lima de Souza, presidente da Amasp.
Souza diz ainda que foi procurado por quase 1 mil motoristas retirados da plataforma.
‘Desativada permanentemente’
O g1 conversou com três motoristas de aplicativo que foram excluídos da plataforma. Todos admitem os cancelamentos, mas dizem que os números apresentados pela plataforma não correspondem à quantia de viagens canceladas e que não foram avisados da possibilidade de exclusão.
Ao retirar um motorista da plataforma, a Uber envia uma mensagem dentro da plataforma e restringe o acesso para novas corridas. Alegando violação do Código da Comunidade Uber, a conta é “desativada permanentemente”.
“Na Uber, o cancelamento de viagens é um direito tanto do motorista quanto do usuário. Porém, o abuso desse recurso configura mau uso da plataforma, pois prejudica intencionalmente o seu funcionamento”, diz a nota enviada aos motoristas.
Falta de notificação
O motorista Francisco Peixoto Neto, de 33 anos, conta que foi notificado pela empresa na terça-feira, mas tinha por hábito cancelar corridas em áreas de risco da cidade de São Paulo e, mais recentemente, as que fossem pouco rentáveis pelo custo de combustível. Ele diz que nunca foi notificado de que estava quebrando alguma regra.
“Se eu tivesse recebido uma mensagem antes, teria parado de cancelar porque dependo disso para sustentar minha filha de 5 meses. A gente não teve uma chance de defesa”, diz Peixoto.
O mesmo padrão é descrito por Douglas Santana, de 36 anos. “Estou há quase 4 anos na Uber, nunca tive problema e nem reclamação”, diz.
Já Carlos Alberto Rocha, de 37 anos, diz que depois de tirar um intervalo na terça-feira não conseguiu voltar ao aplicativo. Além disso, ao ter a conta desativada, não consegue contato com a empresa para negociar um retorno.
“O que me deixa chateado é que somos simplesmente excluídos, sem importar se precisamos sustentar nossa família ou pagar prestação do carro, seguro e licenciamento”, afirma Rocha.
Nota da Uber
Procurada, a Uber emitiu duas notas de esclarecimento. A primeira, publicada nesta reportagem por volta das 18h, não contestava o números da Amasp. A segunda, enviada às 19h30, está abaixo.
A Uber esclarece que não “excluiu mais de 15 mil motoristas”, como afirma a associação ouvida pela reportagem. São cerca de um milhão de motoristas e entregadores parceiros cadastrados na plataforma da Uber no Brasil, e apenas uma minoria, cerca de 0,16% do total, apresenta comportamentos que prejudicam intencionalmente o funcionamento da plataforma e atrapalham outros motoristas e usuários que apenas desejam gerar renda ou se deslocar.
Motoristas parceiros são profissionais independentes e, assim como os usuários, podem cancelar viagens quando julgarem necessário. Cancelamentos excessivos ou para fins de fraude, porém, representam abuso do recurso e configuram mau uso da plataforma, pois atrapalham o seu funcionamento e prejudicam intencionalmente a experiência dos demais usuários e motoristas.
A Uber tem equipes e tecnologias próprias que revisam constantemente as viagens e os cancelamentos para identificar suspeitas de violação ao Código da Comunidade e, caso sejam comprovadas, banir as contas envolvidas.
Comportamentos como a prática de cancelar diversas viagens em sequência e logo após terem sido aceitas prejudicam negativamente todos que usam a plataforma porque, de um lado, impedem que outros motoristas parceiros gerem renda atendendo as mesmas solicitações de viagens canceladas, e, por outro, deixam os usuários esperando mais tempo ou até desistindo da solicitação.
O abuso no cancelamento de viagens não tem nada a ver com a liberdade do motorista parceiro de recusar solicitações. Na Uber, o motorista é totalmente livre para decidir quais solicitações de viagem aceitar e quais recusar.
A conexão entre parceiro e usuário – quando nome, modelo e placa do carro são compartilhados e o usuário recebe a confirmação de que o motorista está a caminho – só ocorre depois do motorista ter conferido as informações da solicitação (tempo, distância, destino etc.) e decidido aceitar a realização da viagem.”
Fonte: G1