Polícia do Amazonas indicia advogada por extorsão em caso de estupro

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Adriane Magalhães e Charles Garcia (Composição: Lucas Oliveira/Cenarium)

Redação – A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) indiciou, no último dia 15 de maio, a advogada Adriane Cristine Cabral Magalhães pelo crime de extorsão contra o também advogado Francisco Charles Garcia Júnior, de 43 anos, investigado por estupro em Manaus (AM), e a esposa dele, Juliana Chaves Coimbra Garcia. Charles Garcia é sobrinho do ex-prefeito de Parintins (AM) Frank Bi Garcia (PSD).

Em abril deste ano, o advogado foi denunciado por estupro contra a ex-recepcionista Marcella Nascimento Pinto, 34 anos. Após o registro do Boletim de Ocorrência (BO), Charles Garcia acusou a advogada Adriane Magalhães, que responde pela defesa de Marcella, de querer “ganhar dinheiro ilicitamente” por meio da ex-funcionária que atuou no escritório de advocacia dele, na Zona Centro-Sul de Manaus.

A delegada do 16° Distrito Integrado de Polícia (DIP) Grace Louisa Souza Jardim apontou, no Inquérito Policial nº 10740/2025, que há indícios suficientes da prática de extorsão pela advogada Adriane Cristine Cabral Magalhães. O crime configura-se pelo ato de “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa“.

A autoridade policial também cita indícios de tentativa de coação de testemunha por Adriane Cristine Cabral Magalhães, diante da abordagem feita a uma ex-funcionária de Charles Garcia, identificada como Najla Salim.

Trecho do inquérito policial (Reprodução)

Ainda segundo a delegada, os indícios constatados são que Adriane Magalhães procurou Juliana Chaves Coimbra Garcia, esposa de Charles Garcia, para relatar o crime de estupro, que ainda não havia sido denunciado na polícia, e sugeriu acordo para “evitar exposição e denúncia”.

Também estabeleceu, afirmou a autoridade policial, prazo para resposta e reiterou pedido a terceiros; fez menções a valores específicos, “reforçando a condição econômica como impeditivo de medidas judiciais ou exposição pública“; e tentou cooptar ex-funcionárias e testemunhas a aderirem à narrativa, “com insistência e manipulação emocional“.

Após a conclusão das investigações, o inquérito foi remetido ao Poder Judiciário. Em nota, a defesa de Adriane Magalhães informou que ainda não foi notificada sobre o indiciamento e que a advogada não figura como parte na ação penal. A defesa chamou, ainda, de “vazamento de informações” a notícia sobre o indiciamento e acrescentou que vai tomar as medidas legais cabíveis para identificar a origem da “divulgação indevida”, e responsabilizar os envolvidos. (Veja a nota na íntegra no final da matéria)

Também em nota, Charles Garcia comentou sobre o indiciamento e disse que jamais cedeu, ou cederá, às intimidações. Ele reafirmou total confiança na atuação da Polícia Civil, do Ministério Público e do Poder Judiciário do Amazonas. “Esta nota reforça que os fatos agora estão amparados por provas concretas, e que a extorsão está sendo combatida com a ação investigativa das autoridades competentes”, declarou. (Veja a nota na íntegra no final da matéria)

Entenda o caso

De acordo com a investigação, Adrianne Magalhães procurou Juliana Chaves Coimbra Garcia, no dia 4 de abril deste ano, para tratar de um caso de estupro cometido por Charles Garcia contra Marcella. Na ocasião, segundo consta no inquérito a partir dos relatos do casal, a advogada sugeriu um acordo de R$ 500 mil com a finalidade de evitar denúncia formal e divulgação pública. A denúncia de estupro foi registrada na polícia do Amazonas três dias depois, no dia 7 de daquele mês.

Que a advogada sugeriu que dada a gravidade da situação, o ideal era fazer um acordo. Que tal acordo seria feito para que a suposta vítima não procurasse a delegacia e não expusesse a situação para blogs. Que, segundo a advogada, a suposta vítima iria expor essa situação a público. Que a vítima queria ir na delegacia, mas a advogada orientou que ela aguardasse“, narrou a delegada Grace Louisa Souza Jardim.

Trecho do inquérito policial (Reprodução)

No inquérito consta, ainda, que o advogado de Charles Garcia, Antônio Lúcio, também se reuniu com a advogada, ocasião em que foi solicitado que levasse a Garcia a proposta de pagamento. Segundo Adriane, a vítima Marcella queria R$ 1 milhão, mas a advogada propôs o valor de R$ 500 mil.

Antônio Lúcio relata que a advogada teria dito ao declarante para levar a proposta de R$ 500 mil ao Dr. Charles, para que o caso fosse solucionado. Que o declarante disse que não teria como voltar atrás se o procedimento já tivesse sido feito. Que a advogada disse que isso não seria problema, que a vítima não daria andamento caso houvesse um acordo“, explica o documento.

Trecho do inquérito policial (Reprodução)

Outra ex-funcionária, Najla Salim, também relatou no inquérito que foi procurada por Marcella para se vincular ao caso, o que negou. Ela afirmou que foi importunada e coagida por Adriane Magalhães.

Trecho do inquérito policial (Reprodução)

Por fim, nos autos do inquérito, a advogada Adriane Magalhães afirmou que procurou Juliana Garcia para informá-la sobre denúncias graves de abuso sexual e assédio moral contra Charles Garcia, e declarou que a intenção era “preparar” Juliana para os fatos. Magalhães negou, veementemente, qualquer tentativa de extorsão.

Denúncia de estupro

Marcella Nascimento Pinto, 34 anos, denunciou à Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) o advogado Francisco Charles Garcia Júnior pelo crime de estupro em abril deste ano. De acordo com o Boletim de Ocorrência (BO), o homem chegou a praticar os abusos sexuais por duas vezes contra a vítima, que foi ameaçada com arma de fogo.

Segundo a mulher, os abusos ocorriam quando o advogado solicitava auxílio dela em um escritório de advocacia, localizado no bairro Adrianópolis, na Zona Centro-Sul de Manaus. Marcella também afirmou que foi vítima de agressão em um dos abusos cometidos e que teve o aparelho celular tomado pelo suspeito. O caso foi denunciado na Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher (DECCM).

Boletim de Ocorrência sobre o caso de estupro foi registrado (Reprodução)

Ele escondia o meu celular, porque eu não podia gravar nada, não podia me defender. Nesse dia que eu subi [para i espaço onde Francisco Júnior estava], ele fez eu tocar nas genitálias dele“, diz em trecho de uma declaração.

Além do BO, registrado em 7 de abril de 2025, as autoridades também pediram ao Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) o deferimento de medida protetiva em favor da vítima. Entre as solicitações feitas pela PC-AM estão: proibição de aproximação da vítima, familiares e testemunhas; e proibição de contato com a vítima e testemunhas por qualquer meio.

Marcella também pediu investigação criminal contra o advogado Francisco Garcia Júnior “pela prática de da infração penal estupro, autorizando a realização do procedimento policial com base nos fatos narrados no Boletim de Ocorrência”. Após a formalização do requerimento, a PC-AM passou investigar o suspeito.

Na época, por meio de nota publicada na rede social Instagram, o advogado Charles Garcia Júnior afirmou que era vítima de extorsão por parte da denunciante e da advogada dela há 15 dias.

Veja a nota na íntegra:

Em nota, a defesa de Adriane Magalhães informou que ainda não foi notificada sobre o indiciamento e que a advogada não figura como parte na ação penal. A defesa chamou, ainda, de “vazamento de informações” a notícia sobre o indiciamento e acrescentou que vai tomar as medidas legais cabíveis para identificar a origem da “divulgação indevida”, e responsabilizar os envolvidos.

A presente nota tem por finalidade esclarecer, de forma objetiva e responsável, os recentes rumores veiculados por alguns meios de comunicação envolvendo o suposto indiciamento da advogada Dra. Adriane Magalhães, profissional de reputação ilibada e longa trajetória dedicada à advocacia ética, técnica e combativa.

É importante destacar que não houve, até o presente momento, qualquer notificação oficial às partes interessadas sobre eventual indiciamento da Dra. Adriane. Além disso, causa estranheza e preocupação a divulgação de informações oriundas de procedimento que, em tese, tramita sob sigilo, contrariando princípios básicos do devido processo legal, da presunção de inocência e do respeito às garantias fundamentais.

A exposição seletiva e descontextualizada de dados, ainda que não confirmados, gera grave prejuízo à imagem e honra da profissional, além de afrontar o Estado Democrático de Direito. Reiteramos que a Dra. Adriane não figura como parte em nenhuma ação penal, o que torna ainda mais grave o suposto “vazamento” de informações protegidas por segredo de Justiça.

A equipe jurídica da profissional acompanha atentamente o desenrolar dos fatos e tomará todas as medidas legais cabíveis para identificar a origem da divulgação indevida e responsabilizar os envolvidos por eventuais abusos.

Por fim, reafirmamos o compromisso da Dra. Adriane Magalhães com a defesa intransigente da legalidade, da justiça e da ética. Sua atuação sempre se pautou pelo respeito às instituições e pela luta por direitos fundamentais, sendo reconhecida por seus pares, clientes e comunidade jurídica como uma advogada séria, comprometida e respeitável.

Solicitamos responsabilidade e prudência à imprensa, a fim de evitar conclusões precipitadas e danos irreparáveis à honra de uma profissional cuja trajetória é marcada pelo respeito às leis e à Constituição.

Reportagem: Agência Cenarium

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