Metade dos povos isolados pode desaparecer em 10 anos, aponta Survival

No momento, você está visualizando Metade dos povos isolados pode desaparecer em 10 anos, aponta Survival
Foto: Reprodução/Survival

Redação – A organização Survival International lançou, nessa segunda-feira, 27, o relatório “Fronteiras de Resistência: a luta global dos povos indígenas isolados”, o primeiro estudo mundial dedicado a esses povos. O documento revela que existem ao menos 196 grupos e povos indígenas isolados vivendo em dez países da América do Sul, Ásia e Pacífico, sendo 124 apenas no Brasil.

O levantamento alerta que até metade desses povos pode ser dizimada nos próximos dez anos se governos e empresas não agirem imediatamente para garantir seus direitos territoriais e o princípio do “não contato”. O relatório foi apresentado em Londres e contou com a presença de lideranças indígenas como Lucas Manchineri e Maipatxi Apurinã, do Brasil, e Herlin Odicio, do Peru, além do ator Richard Gere, apoiador da causa.

De acordo com o estudo, os povos indígenas isolados optam conscientemente por rejeitar o contato com o mundo exterior – uma escolha baseada em experiências passadas de invasão, epidemias e violência. Eles vivem de forma autônoma e autossustentável, mantendo uma relação equilibrada com os ecossistemas em que habitam.

A maior concentração desses povos está na Amazônia, especialmente na região de Yavari-Tapiche, entre o Brasil e o Peru, onde há 26 grupos isolados. Também há registros na Indonésia, Papua Ocidental e nas ilhas de Andaman e Nicobar, na Índia.

“O indígena isolado está na casa dele, como ele escolheu o lugar! O parente isolado não está passando fome. Eles têm caça, frutas, castanha. Eles vivem bem”, afirmou o líder indígena brasileiro de Roraima, Davi Kopenawa Yanomami, em testemunho citado no relatório.

Ricardo Oliveira/CENARIUM

Esses povos são descritos como protetores de florestas ricas em biodiversidade, consideradas essenciais para a mitigação da crise climática. Quando não sofrem ataques externos, segundo o documento, eles prosperam.

Mineração, agronegócio e missionários

O estudo revela que mais de 90% dos povos indígenas isolados enfrentam ameaças diretas do setor extrativista, legal ou ilegal. A exploração madeireira ameaça 64% desses grupos, enquanto a mineração impacta 41% e o agronegócio é um dos principais motores de desmatamento na Amazônia e no Chaco Paraguaio.

Além dessas atividades, projetos de infraestrutura, organizações criminosas, missionários fundamentalistas e até influenciadores digitais têm colocado em risco comunidades que vivem sem contato.

O relatório denuncia que pelo menos um terço dos grupos isolados da Amazônia estão hoje sob ameaça direta do narcotráfico, responsável por devastar florestas e promover violência armada. Casos documentados incluem “caçadas humanas” no Paraguai, epidemias fatais entre os Nahua do Peru após a exploração de petróleo pela Shell e a morte em massa de Nambikwara no Brasil após a construção de uma estrada.

Foto: Reprodução

“Toda esta terra pertencia aos nossos antepassados, mas as pessoas de fora vão destruir tudo. Eu tenho uma irmã entre eles. É por isso que não queremos que os invasores destruam mais da floresta com suas escavadeiras”, disse Ojai Chiquenoi, do Paraguai.

Direitos violados e resistência

O relatório reforça que o direito internacional garante aos povos isolados a propriedade coletiva dos territórios e o direito de rejeitar o contato. A violação dessas garantias é considerada crime em diversas legislações nacionais. Mesmo assim, muitos governos continuam emitindo licenças para mineração e infraestrutura em áreas protegidas, colocando em risco populações inteiras.

O governo indonésio, por exemplo, concedeu 19 licenças de mineração em terras do povo Hongana Manyawa. Enquanto isso, o governo da Índia planeja um megaporto e uma base militar na ilha dos Shompen, também habitada por indígenas isolados. No Brasil, políticos e projetos de “interesse nacional” ameaçam pelo menos 28 grupos isolados.

“Se não apoiarmos a luta deles pela floresta, meus parentes isolados morrerão. A floresta é tudo, é seu coração e vida. Meus pais e irmãos estão lá. Sem apoio, eles vão morrer”, alertou um homem Hongana Manyawa, da Indonésia.

Para a diretora da Survival International, Caroline Pearce, a solução é clara: “Respeitar a escolha e a resistência dos povos isolados. Os governos devem reconhecer o direito à autodeterminação e os direitos à terra. As indústrias precisam parar de explorar suas terras, e todos devem ficar fora dos territórios desses povos.”

O relatório conclui que a sobrevivência dos povos indígenas isolados depende da ação conjunta de governos, empresas e sociedade civil – e que a resistência desses povos é uma luta pela vida e pelo futuro da humanidade.

Fonte: AGÊNCIA CENARIUM

Deixe uma resposta