Terras Indígenas são quase 80% das áreas mais atingidas pelo desmatamento na Amazônia

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Pesquisadores estudaram uma área de floresta em um ponto remoto do nordeste do Peru (Alvaro Del Campo/BBC Brasil)
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Pesquisadores estudaram uma área de floresta em um ponto remoto do nordeste do Peru (Alvaro Del Campo/BBC Brasil)

VILHENA (RO) – O monitoramento trimestral ‘Ameaça e Pressão’ do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), publicado nesta terça-feira, 8, mostra que de fevereiro a abril deste ano, 1.767 km² de desmatamento foram detectados na maior floresta tropical do mundo, onde estão as três Terras Indígenas (TIs) que mais sofreram degradação: Yanomami (AM/RR), Alto Rio Negro (AM) e Mundurukú (PA). Ao todo, sete territórios de povos tradicionais foram listados, representando 79% de todas as áreas devastadas.

O relatório é preparado com base nos dados do Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), utilizando imagens de satélites para comparar o impacto nas Áreas Protegidas (APs), cruzando as informações com o mapeamento da Amazônia, dividido em células. Cada uma tem 100 km². Daí, é possível determinar se as ocorrências atingiram as APs e quais foram elas.

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A APA Triunfo do Xingu foi a Área Protegida mais pressionada de toda a Amazônia entre fevereiro e abril de 2021. (Reprodução/Governo do Pará)

Entre fevereiro, março e abril, foram 1.966 ocorrências de desmatamento, sendo 1.435 (73%) de ameaça e 531 (27%) relacionadas à pressão exercida pela devastação.

O Imazon qualifica como ameaça o risco iminente de ocorrer desmatamento no interior de uma AP, com exploração inicial em uma área (célula) vizinha. “Os dados de ameaça consideram a ocorrência de desmatamento ao redor das áreas protegidas, levando em conta uma distância de 10 quilômetros. Então, a partir desses dados, é possível fazer as ações de comando e controle de modo que impeça que esse desmatamento ocorra dentro das áreas protegidas”, explica a pesquisadora do Imazon, Larissa Amorim, à Revista Cenarium. 

Já a pressão, é o desmatamento que ocorre dentro do perímetro, alertado antes, como ocorrências de ameaça de desmatamento em relatórios trimestrais anteriores, evidenciando o risco aos serviços ambientais das APs. O estudo funciona como prova cabal de que a devastação da floresta avança e de que faltam medidas eficientes e prioridades na agenda ambiental do governo federal. 

Povos ameaçados

O destaque foi para as ocorrências relacionadas aos territórios indígenas. Pará é o Estado com o maior número de TIs ameaçadas, mas de acordo com a última análise trimestral, a que mais sofreu com a ameaça de desmatamento está em Rondônia: a TI Uru-Eu-Wau-Wau. 

“As Terras Indígenas ocupam os rankings de ameaça e de pressão. E quando comparadas com o mesmo período do ano anterior, houve um aumento de 19% na ocorrência de desmatamento”, revela Larissa Amorim.

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Entre fevereiro a abril, a terceira terra indígena mais pressionada pelo desmatamento no Pará foi a Munduruku. (Reprodução/Instituto do Homem e Meio Ambiente na Amazônia – IMAZON)

Áreas indígenas sob o risco de ameaça de desmatamento listadas no relatório anterior aparecem agora como APs pressionadas, onde o desmatamento de fato se instalou. “Um exemplo é a TI Yanomami, que nos estudos anteriores foi indicada como uma TI ameaçada e, nesse estudo atual, é a Terra Indigena mais pressionada”, ressalta a pesquisadora do Imazon. No Pará, o território da etnia Munduruku também sofre com o avanço da devastação da reserva.

Outros retrocessos

Já no Ranking geral, considerando todas as APs além dos territórios indígenas, a Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, um parque estadual do Pará, foi a Área Protegida mais pressionada de toda a Amazônia, entre fevereiro e abril de 2021.

A Reserva Extrativista Jaci-paraná e o Parque Estadual de Guajará-Mirim, em Rondônia, que apareciam antes entre as APs mais pressionadas, saíram do ranking porque foram reduzidas em quase 220 mil hectares, depois da publicação de uma lei complementar que chocou ambientalistas e lideranças indígenas e que agora deve ser julgada na Justiça. O ato foi considerado como a maior redução de Unidades de Conservação já aprovada pelo parlamento de um Estado da federação.

Reversão

De todas as 1.767 ocorrências no último trimestre estudado, além das TIs que representam 79% dos casos, 78% são Unidades de Conservação Federais e 56%, Unidades de Conservação Estaduais.

Para a pesquisadora Larissa Amorim, “uma forma de proteger essas áreas que estão sob grande influência do desmatamento, é justamente as ações de fiscalização por parte dos órgãos de comando e controle”. “É necessário identificar as áreas protegidas que estão sendo mais ameaçadas e mais pressionadas e fazer ações efetivas nelas”, destaca.

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